Queria dizer, terra, campo de batalha, resíduo sólido, areia,
fim do cume, Kilimanjaro - olhos de Hemingway; pó: cabana de ébano, ossos
raquíticos, na boca o abutre; uma girafa cai na fralda do gatilho. Agito o
braço, despacho a águia no horizonte, no livro uma veia desmaia, natureza
morta, absorvo a cor da chuva, voz silenciada ao entardecer. Na força da alma
Govane destrói a sombra das térmitas, um olho prende o miolo, o açúcar do
fermento envolve a pasta (massa), o pão do poema
ou uma substância forma o ar, abstracta é a bicicleta nos pés da andorinha. Todas
as manhãs nascem na boca; circulo no vazio, a morte, aterro da saudade, veste
uma sombra da areia, o cálice da indiferença, e o amarelo-sujo?
Cresce ao sol a borboleta, redijo o pólen, nos botões da madrugada,
uma agulha dispensa o peso do elefante, Ponge suga as ostras com o olhar,
Dentro da fenda, um gomo arde, a língua amortece o paladar com a
fúria da sede, regresso à Marselha, Cézzane esconde a paleta nos olhos de
Hortense, uma criança chora no tecto do caixilho.
Ou
Cruzo o abismo, o termómetro da sanidade, dentro da catedral sopram algorítimos, manchas de luz podando a poeira do sótão, assim, escolho um título, uma mão se perde na exaustão do verbo, as capas sorriem no cansaço dos olhos indecisos.
Cruzo o abismo, o termómetro da sanidade, dentro da catedral sopram algorítimos, manchas de luz podando a poeira do sótão, assim, escolho um título, uma mão se perde na exaustão do verbo, as capas sorriem no cansaço dos olhos indecisos.
Quantas pétalas nascem no vazo da tempestade?
Levo grãos de areia nos bolsos ou carto à terra, o asfalto da
minha sentença; a enxada navega diluída da bússola, a ferrugem da carne balouça
na podridão do suor, não há Zambeze em Veneza, os Bons Sinais ofuscam a palavra
no cais, tudo é permeável, saguate ou cicuta, a boca mastiga seus grãos de
morte no escuro.
Corro dentro de mim, a terra espalha-se nos ossos, grito: fogo,
uma alma entediada aprisiona a maçã do rosto; rio, sobras de lágrimas escorrem
no vácuo, uma mesa dança ballet, encostado ao tormento da solidão, salto alguns
degraus na escada, aprecio o volume das mãos no mestre Govane, uma chama
reacende o ciclo da vida, e nenhuma verdade dorme na mata, terei comigo as mãos
verdadeiras? Um punhal, escopro do poema, fadiga, derroto o cálice, meu sangue
ardente.
obedeço a pulsação do verbo.
Breve
biografia
M.P.Bonde
nasceu a 12 de Janeiro de 1980 em Maputo. Foi membro do projecto (JOAC) e do
colectivo Arrabenta Xithokozelo. Em 2017 lançou a sua primeira obra literária
“Ensaios Poéticos” pela Cavalo do Mar.
Vencedor da 1.ª
edição do Prémio Literário Fernando Leite Couto.
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