O dia começou aziago
com chuva intensa tocada a vento. Péssimo para quem decide envergar, sob o
casaco impermeável, camisola branca e tem de carregar nos braços uma caixa, com
80 livros, protegida por um saco de plástico, cuja cor preta ocultou na
perfeição a sujidade que o revestia. Resultado: todo o dia, de manhã à noite,
pela necessidade de agenda, com a camisola manchada de ferrugem, como se
estivesse com o conteúdo de uma chávena de café estampado no peito.
Foi neste preparo que
enfrentei o público que marcou presença no I Painel In-Finita, subordinado ao
tema Poesia e acção social, com o autor Manuel Machado e seus convidados, Sara Teiga e Ricardo Fonseca.
Sobre o evento muito
poderia ser escrito tal a enxurrada de assuntos interessantes abordados.
Durante hora e meia, que passou num piscar de olhos e sem que dessemos conta,
dissertou-se sobre matérias sensíveis, com empolgamento, diversão, seriedade e
emoção extrema. Os testemunhos e ideias expressas pelos três membros do painel refletiu-se
na assistência e a interacção do público presente ajudou que, no final, todos
sentíssemos o sabor amargo de uma conversa que poderia, muito bem, ter
continuado não fosse a crueldade de um tempo, que não o atmosférico, que não
perdoa na sua passagem e não há meio de conseguirmos esticá-lo.
À In-Finita resta
agradecer, aos que enfrentaram uma manhã chuvosa, pelo fantástico evento
proporcionado e manifestar o regozijo pela satisfação que nos foi transmitida
por todos os intervenientes.
O almoço, junto de
alguns autores, ajudou a acalmar as emoções sentidas durante a manhã, até da
camisola manchada, mas fez nascer a incerteza sobre o que ainda nos esperava às
15 horas, com o lançamento das primeiras antologias da In-Finita: Conexões
Atlânticas (só com autores brasileiros), coordenada pela Adriana Mayrinck, e
Toca a Escrever (só com autores portugueses), coordenada por mim. Ambos com a
participação indispensável e essencial da Julia Mayrinck, a melhor designer que
poderíamos ter – e temos a sorte de ter.
Por diversas
circunstâncias, e tal como referi publicamente no evento de Sábado, estava à
espera de uma assistência reduzida. No entanto, para minha surpresa e nossa
satisfação, a sala foi-se compondo e os números superaram, em muito, a minha
fraca perspectiva.
O início deste evento,
tão importante para os membros da In-Finita, pode ter sido entendido, por quem
esteve presente, como enfadonho e repetitivo mas, tanto eu como a Adriana
sentimos a necessidade de, nesta fase ainda embrionária do projecto, explicar
aquilo que nos move e quais os nossos objectivos. Queremos deixar bem claro que
a In-Finita não aparece para dividir mas sim para agregar; que não aparece para
substituir mas sim para complementar. E essa nossa mensagem só pode ser
entendida se o repetirmos exaustivamente.
Mas depois da parte
chata e das explicações sobre as razões que levaram ao aparecimento das
antologias CONEXÕES ATLÂNTICAS e TOCA A ESCREVER, surgiu o momento de partilhar
a nossa satisfação com os presentes e fazer aquilo que mais gostamos de fazer
e, sem modéstias, sabemos fazer bem: DIVULGAR AUTORES.
Durante o evento foram
projectadas imagens de todos os autores brasileiros que contribuiram para que o
Conexões Atlânticas seja o primeiro projecto realizado totalmente de acordo com
o que idealizámos. Todos os presentes na sala (autores participantes da
antologia Toca a Escrever incluídos), receberam um exemplar CONEXÕES
ATLÂNTICAS, posaram para a posterioridade e assim, a partir desse momento,
passaram a conhecer 54 autores do outro lado do atlântico, de diversos pontos
do Brasil. E de imediato houve quem se dispusesse a ler alguns poemas desse
trabalho.
De forma resumida,
posso dizer que 21 de Abril foi um dia em cheio para a In-Finita, com mais uma
confirmação do quão acertados estamos no caminho que decidimos percorrer e que,
continuando fiéis às nossas convicções e propósitos, o resultado só pode ser
um: mais dias em cheio.
Quanto à camisola
manchada… está na lavandaria!
MANU DIXIT
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