Um dos principais
problemas que encontramos, com facilidade, nos livros, é a deficiente revisão
dos textos (ou a falta dela). Há sempre um acento omisso; uma vírgula sem
propósito; espaço indevido antes de reticências, ou ausência de espaço entre as
reticências e a continuação do texto; maiúsculas após pontuação final; erros de
concordância; palavras mal escritas e outras mal empregues; gralhas, etc.
Entre os serviços que a
In-Finita oferece, tanto a autores como a editoras, está precisamente a revisão
de textos.
Este trabalho exige,
não só um bom conhecimento linguístico, mas também uma enorme variedade de
ferramentas: prontuários, dicionários, manuais de escrita, entre outros. No
entanto, e tendo em conta a diversidade linguística existente no universo lusófono,
somos confrontados com especificidades locais e culturais que nenhum manual
contém. Nessa hora, é imprescindível a ajuda dos autores na descodificação
correcta das dúvidas que surgem. E é sobre este aspecto que quero incidir o
foco do texto que agora escrevo.
Uma das nossas
primeiras preocupações, quando nos enviam um texto para revermos, é fazer uma
lista das situações mais flagrantes e remetê-la para explicação dos autores. E,
na grande maioria das vezes, os erros encontrados são tão básicos que não
conseguimos compreender a relutância dos autores em assumir os erros, optando
por dar explicações absurdas, e acima de tudo incoerentes, reveladoras do quão
escasso é o conhecimento da língua portuguesa. Darei dois exemplos recorrentes:
1º - Pontuação: Por
norma, quando confrontados com a ausência, ou uso abusivo, de pontuação, os
autores explicam esse facto como sendo parte integrante do seu próprio estilo,
e lançam-me à cara sempre o mesmo nome: José Saramago. Ao fazê-lo, com o claro
intuito de revelarem erudição e conhecimento, acabam por revelar-me o quão mal
conhecem a sua obra (creio que a maioria nunca leu um livro sequer) porquanto
só em duas ocasiões é que este autor foi omisso no uso de pontuação, e fê-lo em
obras menores. Fico espantado por, nesta altura do “campeonato”, as pessoas
continuarem a falar do que não sabem e, pior, a falar do que não sabem para
explicar que não sabem pontuar textos.
2º - Erros
ortográficos: Um dos argumentos mais frequentes para justificar um erro
ortográfico é dizerem que aos autores é permitido (e até exigido) que usem
novos vocábulos e inventem palavras. Quando ouço isto eriçam-se-me os pelos da
barba. Uma coisa é acrescentar vocábulos, outra bem distinta é mutilar os
existentes.
Será que as pessoas não
entendem que essa “permissão”, outorgada aos autores, exige o respeito pela
morfologia das palavras? As palavras não nascem por pura invenção; todas têm de
conter dentro uma explicação histórica, credível e exacta da sua morfologia. A
língua portuguesa não pode ser tratada como a linguagem dos “P’s”.
Mais do que inventar
vocábulos e/ou estilos diferenciados, aos autores é exigido um permanente
estado de alerta para defesa e bom uso daquilo que a nossa língua já possui.
Antes de inventar ou querer diferenciar-se, o autor tem de provar que domina na
perfeição todos os aspectos do seu idioma.
Os autores devem marcar
a diferença pela excelência dos seus trabalhos, seja pela criatividade ou pelo
uso apurado e correcto da língua. Primeiro façam o vosso caminho pontuado pela
ausência de erros (e, já agora, alguma modéstia) e quando a obra justificar
consagração, então aí, inventem o que quiserem pois estarão habilitados para o
fazerem.
Tal como fez Saramago.
MANU DIXIT
Excelente texto. Muito obrigada pela partilha.
ResponderEliminarAntes de quebrar as regras é preciso sabê-las e exercê-las com mestria.
Grato pela visita comentada...
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