Não raras vezes, em
conversa com outros autores, abordam-se temas interessantes e que merecem
reflexão. Apesar de ter os meus próprios conceitos sobre a poesia, tenho a
abertura suficiente para compreender pontos de vista distintos dos meus. No
entanto, essa disponibilidade de entendimento só marca presença quando, do
outro lado, existe capacidade argumentativa, logo pensada, que justifique o que
é defendido. Essa forma, de estar e compreender o outro, é a razão primeira
para a minha evolução enquanto autor.
Não me cai nenhum braço
se afirmar que, ao longo do meu percurso, fiz algumas alterações significativas
no meu modo de criar e, acima de tudo, no modo de entender fórmulas e conceitos
mais válidos e lógicos que aqueles que tinha anteriormente.
Posso dar como exemplo
uma conversa com, talvez, seis ou sete anos, e que mudou a minha percepção
sobre os primeiros escritos editados.
Ao falar com um autor,
com muitos mais anos de experiência e criação, consequentemente com uma visão
mais abrangente e conhecedora, entendi algumas coisas que hoje são, para mim,
pedras basilares naquilo que escrevo e na forma como o faço. Depois dessa
conversa, consegui perceber a diferença entre poema e poesia. Depois dessa
conversa, consegui entender o que distingue um bom poema de um mero poema.
Depois dessa conversa, a minha escrita evoluiu e, acredito, atingiu patamares
mais elevados que, caso não tivesse escutado o que me foi transmitido, muito
dificilmente atingiria.
Não raras vezes, uma
simples conversa com outros autores pode alterar as nossas percepções e
levar-nos a mudanças que, à primeira vista, são mínimas mas que marcam e
definem, de forma impactante, todo o nosso trajecto. Mas para que essa mudança
exista e ajude a criar novas bases de sustentação para aquilo que escrevemos,
temos de trabalhar em nós a tal capacidade de ouvir os outros; evoluir no nosso
pensamento e, talvez o mais importante, sabermos admitir que, por muito bem
fundamentados que sejam os nossos argumentos, por mais lógicos e assertivos que
sejam os nossos conceitos, o simples facto de sermos humanos leva-nos ao erro e
devemos, em todas as circunstâncias, ter a humildade de reconhecer essa nossa
condição.
Tal como a grande
maioria dos autores que conheço, eu também escrevia autênticos lençóis de
versos e apelidava-os de poesia. Bastava ter caneta na mão e, enquanto houvesse
espaço branco numa folha de papel, escrevia, sem dar-me conta que aquilo que eu
achava um grande poema, uma quase obra-prima, não passava de um mero poema que,
seu eu tivesse, na época, os conhecimentos que ganhei com a dita conversa,
talvez pudesse ter transformado em três ou quatro bons poemas.
Essa conversa
ensinou-me que poema é o texto e poesia é a obra. Com essa conversa aprendi que
um poema grande raramente é um grande poema, Após essa conversa entendi que a
excelência de um poema não está na quantidade de versos produzidos, está sim na
qualidade dos próprios versos e, se fazer um bom verso já é difícil, criar um
poema com inúmeros versos de qualidade é tarefa complicada, quase utópica, que
apenas alguns génios foram capazes de produzir.
Através dessa conversa
consegui entender que uma ode não é feita por quem quer, mas sim por quem pode
e sabe. Percebi também que, por mais esforço que um autor possa empregar no
acto de criação, poucos são capazes de atingir a excelência, menos ainda quando
a consciência de autor não existe e todo e qualquer escrevinhador acredita, na
sua total ausência de humildade, ser Álvaro de Campos, Ruy Belo ou José Carlos
Ary dos Santos, para não mencionar mais.
Depois dessa conversa,
não passei a ser defensor intransigente da poesia minimalista, mas compreendo
melhor o quanto é necessário ter os pés bem assentes na terra e que, em vez de
tentar, em permanência, criar uma nova Ode Marítima, posso fazer três ou quatro
poemas mais reduzidos que, em conjunto, podem beneficiar qualitativamente a
minha poesia.
A poesia é a soma dos
poemas que criamos e a qualidade dela não depende do tamanho dos poemas,
depende sim do valor com que cada poema contribui para o todo. As boas obras de
poesia não são unanimemente compostas por poemas grandes. As boas obras de
poesia são alicerçadas na grandeza dos versos, na grandeza dos poemas, na
consistência qualitativa do que se cria.
Depois dessa conversa,
não passei a ser defensor da poesia minimalista e também não sou adverso aos
escritos mais longos. Depois dessa conversa cheguei à conclusão que teria mais
a ganhar entregando-me com todo o vigor e esforço à criação qualitativa em
detrimento dos lençóis.
Bem vistas as coisas,
cada um deita-se na cama que faz.
MANU DIXIT
Muito grata pela partilha.
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