Ler
Alice Vieira é transportar-se para perto de uma lareira, onde o crepitar das
chamas aquece e ao mesmo tempo, se ultrapassarmos um limite, nos queima. É o
sentimento à flor da pele, a poesia despida e transparente. O sentir latente e
real, quase que transportado para o concreto. É sentir-se confortável no
aconchego de uma leitura sempre bem elaborada, bem escrita, onde as palavras
mesmo com lirismo ou metáforas, são palpáveis e simples, que acarinham e despertam,
envolvem ou simplesmente contam uma história, em cenas cotidianas, tão comuns a
todos nós. Mas com a licença dos deuses concedida a poucos e Alice Viera tem, de preencher todos
os espaços das entrelinhas com a sua alma, que carrega a arte, o belo, o sentir
em sua total plenitude e intensidade, apesar da racionalidade e observação prática
evidente na suas obras.
Mesmo
que a atemporalidade esteja bem presente, as perdas ou ausências, emocionam e
somos tocados pelo vazio como se aquele instante também fizesse parte da nossa
história, mas logo em seguida, mergulhamos nas profundezas de um estado quase
letárgico, tão íntimo e profundo, que sua poesia sempre nos conduz, como se a
plenitude fosse o lugar de chegada, o abrigo que buscamos toda a nossa
existência, como bálsamos para aliviar as jornadas entre as pedras e abismos de
nós. E mesmo que a intenção seja sacudir nossos alicerces, retirar o mofo da
mesmice e direcionar os sentidos para o que realmente importa no ser, sentir,
vivenciar, aquela sensação de bem estar, após a sua leitura, permanece.
É
esse estar à beira mar, com gaivotas deslizando na brisa, em total liberdade e
sentidos apurados, na calmaria, do ir e vir das ondas em sinfonia permanente
que o ler Alice Vieira, conduz, que nos faz transbordar de contentamento ao
apreciar a arte das palavras sempre tão bem-vindas. É como aquele colo que nos
envolve, o sorriso que afaga, como a mão amiga que conduz, aquele instante que
não volta mais e permanece ecoando na lembrança. Ler
Alice Vieira é como o entardecer, seja no verão ou no inverno, com suas cores,
cheiros e sabores que ficam bailando no ar.
Foi
assim que me descobri em seus poemas e os sigo, há mais de dez anos, quase que
guardados em um relicário de sensações e emoções identificadas a cada leitura.
E
reencontro-os a cada livro lançado. E não podia ser diferente em OLHA-ME COMO
QUEM CHOVE. Talvez um livro de memórias, de instantes e vivências, de distâncias
e proximidades, de observações e intensidades, de afetos e partidas, de
lembranças , de ecos do passado na celebração da vida presente, do pensar no
além daqui, como parte do inevitável, mas vivido tão intensamente que permanece
nas marcas do lado de dentro, ou simplesmente um livro de amor, com o que não
se pode reter em vida. Mas pode se guardar e levar, na alma.
DRIKKA INQUIT
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