terça-feira, 23 de janeiro de 2018

IN-FINITA APRESENTA... PAULO DE CARVALHO

Paulo de Carvalho, escritor e poeta, com dois livros publicados, Kyrie e Cantabile. Nascido no ano de 1955, na cidade de Niterói, RJ, iniciou desde cedo suas incursões no cenário artístico-cultural. Atualmente dedica-se ao seu trabalho como Designer Gráfico/Diagramador e editor. Fundador da Editora Armazém de Quinquilharias e Utopias, e militante incansável da literatura. Produtor e organizador do movimento literário e do Franzine Alfarrábios, é com imensa alegria e orgulho que agregamos ao time da Assessoria Literária In-Finita, esse dinamizador da arte da escrita.

Kyrie:
O tecnicismo dos nossos tempos cria a exigência de ações precisas e urgentes na busca incessante de objetos, produtos e serviços cada vez mais eficazes, avançados e sofisticados, cujo sentido se dissolve no atendimento ao consumismo e à satisfação narcísica dos indivíduos. Deste modo, se, por um lado, experimentamos os avanços científicos e tecnológicos em pról de uma melhor qualidade de vida; por outro lado, vivenciamos a destruição da natureza e a anulação da subjetividade como efeitos de tais avanços. Este livro de Paulo de Carvalho, escrito em linguagem rebuscada e repleto de simbolismo, não representa, tão somente, o fruto de suas introspecções. Ele é, acima de tudo, resultado de vivências, observações do âmbito eclesiástico, estudos, pesquisas e análises das Sagradas Escrituras, revelado em forma de poemas exortativos. Seu conteúdo ressalta aspectos sociopolíticos e religiosos da vida contemporânea remetendo o leitor a diversas indagações filosóficas e teológicas. A articulação entre as Sagradas Escrituras e a Poesia faz de sua obra uma inovação, tendo o autor o seguinte princípio- Deus é Poesia e todos os Homens são poetas?. Contudo, antes de fomentar uma reflexão acerca da relação que o homem es elece com Deus, os poemas de Paulo de Carvalho incitam a pensar sobre a relação que os homens es elecem entre si, consigo mesmo e com a Natureza, principalmente, em nome Dele. Pois, no que tange às relações humanas e do que delas decorrem, não experimentamos avanço ou progresso semelhante aos já citados. Onde hoje natureza viva por mesas mortas Fartas ceias fartam sujeitos fartos. Fartos de brindes e brilhos - (Cansada Ceia). Se a Poesia é uma criação literária, manifestação artística, forma de linguagem rica em metáforas e analogias, embalada em pura transcendência, por que não ser usada como ferramenta que possibilite uma outra visão de mundo?

Andreia Santos de Carvalho, Psicóloga - Mestre em Pesquisa e Clínica em Psicanálise (UERJ).
Podem ler o texto integral neste link

Cantabile:

A ReDescoberta da Poesia: Paulo de Carvalho e seu Cantabile
Fabio Ulanin*


Os gregos tinham duas palavras para se referir à criação: techné e poiésis. A primeira relacionava-se às artes práticas — o fazer técnico, utilitário, voltado para os afazeres domésticos ou comerciais; o segundo — a Poiésis — ia mais além: revelava a criação maior, aquela que, no Íon de Platão, era reservada ao aedo, o poeta que, iluminado (ou tomado) pelos deuses, revelava o saber maior, mais antigo, intenso, da existência humana. Não por acaso que, na Odisséia, Homero deixa, logo em seus primeiros versos, a palavra narrativa para a Musa. Ao invés de pedir para o Alto o direito de narrar “a Ira de Aquiles” (como na Ilíada), entrega à própria palavra-poética as aventuras do regresso do herói Odysseus. Entre o curvar-se à Musa (aquela Calíope que detém o herói em suas sedutoras mãos: 

“Diáfanos se faziam os séculos
ao afã da poesia e seus poetas.
Tênue translúcido despertar
— Enuncio lavradio da paixão.
Urgia a mais bela mulher.”)


e o deixar que a palavra se revele, há um abismo imenso, intenso e único. O que esperamos, então?
Esperamos apenas que a Poiésis possa revelar-se, íntima e intensa, como se fosse nossa esperança. Há, enfim, o Canto – e este Cantabile de Paulo de Carvalho é um encontro com os sons e nomes (eidos) que se nos aguardam ao pesarmos nossos desejos e nossas íntimas esperas. O Poeta, com vistas à plenitude, divide o livro em quatro partes distintas e complementares (Poemas para Ver, Cotidianos, O Traço Vazio, As Quadras Dela), anunciando uma totalidade de formas, as quais nos remetem ao criador da palavra-mistério do Nome que Cria: o poeta é o daimon, o mensageiro entre o Alto, do Belo pleno, e os homens. Os poemas vão do amor-esperado ao Amor (em-si, ele-mesmo: 


“Sou o que vejo no espelho,/ou o espelho me vê?/no que sou?”) 

correspondido à expectativa íntima da formação do Mundo, como aquela máquina (referida por tantos poetas, como Camões) misteriosa que nos rege e nos ergue. Um desejo de entrega e de desvelar o Mistério.
Mas este livro consegue ir mais além dos horizontes da poesia que nos é apresentada pelas academias e pelos poetas “profissionais”. É um fazer no sentido pleno: a busca da palavra justa (le mote juste de Flaubert) que se entrega e integra à essência da criação. Este Cantabile é o Cântico da entrega do poeta em suas (nossas) expectativas várias. Sejamos, nós, leitores, os amantes amantíssimos que jogam, sobre o tabuleiro, peça a peça, os movimentos da conquista, como em Jogo de Xadrez:


“A dama, de branco trajada,
Tem a vantagem do lance.
Jogo de xadrez!”


ou sejamos, ainda além, estes seres preocupados, intensamente, com o cotidiano que se nos apresenta prenhe de sentidos:

“Segue tua estrada,
Homem solitário!
Segue teu silêncio
Composto de azos e cinzas.
O céu já desvanece ao teu redor.
Não há mais a sarça
(E ainda assim te ardes).”


Mais: se temos de ser — sejamos mais e além: a busca intensa do encontro com nossa essência (“Voa... Voa-me teus escuros,/Macios, suaves, queridos lugares./Seduza-me vento, asas e sol”). Enfim: a Palavra Criadora é uma só — a entrega do poeta ao Ser, o ente que se vê e vê ao mundo como algo além de si, além da revelação terrena:

“Abstrair da palavra
A lavra silábica falada;
Plantar o verbo em hortas.
Mas não tocai o cio do solo.” 


Cantabile é o cantar pleno da palavra. Assim como o Poeta, o fazedor, no dizer de Borges, é o aedo que une (re/une?) todo o Belo na forma do dizer a plenitude: 

“Todo Verbo das tardes falavam outonais:
maciez dos sabores, botões das orquídeas,
matiz das peles: tez tênue, casta nudez.
Cultos solenes — Hinário dos sopros.”


A plenitude da Vida – e a vida é a palavra que crê e cria: Crê em Calíope, que nos prende; Cria, como no princípio do Verbo.

*Fabio Ulanin é mestre em Literatura e Crítica Literária pela PUC-SP. Professor universitário, poeta, autor dos livros Animaquia (1997) e Kether (1999); teve poemas publicados em antologias na Itália e na Suíça, além de artigos sobre literatura no Brasil e em Portugal. Seu próximo livro de poesias, Bemidbar, encontra-se no prelo.

Podem ler o texto integral neste link


Conheçam e contactem o autor neste link

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