Caminhos
Não oiço a voz, a tristeza nos olhos da noite. As
letras, as palavras que desenham as paredes do universo baloiçam nas avenidas
do meu tempo. Continuo na penumbra do vácuo, os frutos do verão apodrecem
indefesos nas árvores, os pássaros famintos abandonam a quietude do voo, meu
ser ofegante na alvorada busca um rótulo na virgindade do papel. Quero estender
no asfalto a minha voz interior, serpentear nos olhos da vela descerrando o
caos do fogo extinto. Regresso ao vácuo, tomo um golo de cerveja, absorvo as
bolhas que dançam na boca do copo. É tudo o que sinto: o frio dos pés, o
silêncio da língua, a amargura nos lábios, a imensidão das mãos cartando
palavras ao entardecer. Toda a bravura nos meus cabelos esfumou-se na inocência
da voz sem idade, no devaneio do escuro que agora me cobre a dor.
Breve
biografia
M.P.Bonde nasceu a 12 de Janeiro de 1980 em Maputo. Foi
membro do projecto (JOAC) e do colectivo Arrabenta Xithokozelo. Em 2017 lançou
a sua primeira obra literária “Ensaios Poéticos” pela Cavalo do Mar.
Vencedor da 1.ª edição do Prémio Literário Fernando Leite Couto.
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