A questão sobre o que é ou o que pode e deve ser
considerado poesia, nunca será consensual porquanto a generalidade das
definições estão umbilicalmente ligadas aos conceitos próprios criados por
diferentes tendências e correntes. No entanto, e se cada um de nós pensar pela
sua cabeça tentando, dentro do possível, eliminar essas influências, facilmente
se chega à conclusão que a poesia existe sob várias formas, fórmulas, estilos e
modelos.
A negação de poesia por qualquer razão meramente
estética é simplesmente a negação da existência de correntes literárias que,
convenhamos, devem reger-se pelas suas especificidades mas nunca com carácter elitista.
Apesar de compreender essa vertente defensora da
conexão arte-poesia em que quase se exige a falta de compreensão dos leitores
sobre a matéria escrita para a considerar poesia legítima, não deixa de ser
verdade que ela não é moderna pela simples razão que sempre existiu poesia
hermética.
Para mim o grande ponto de desencontro está no que
atrás mencionei sobre a falta de consenso na hora de definir os critérios
válidos para se poder chamar poesia a um texto. Na minha ideia e inerentes
conceitos, não existe nada mais democrático que a poesia. A poesia é tão
democrática que não olha a estrato social, a faixa etária, a raça, a credo ou
cor política. Ela, que já foi elitista nas eras medievais, deixou de o ser com o
passar dos séculos e com a crescente alfabetização, que aliás está na génese do
nascimento das tais correntes literárias que teimam em chamar a si mesmas a
autoridade para definir o que pode ser considerado poesia.
Quanto à questão da arte... sempre acreditei que a
arte maior está na capacidade de saber usar o simples em detrimento do
complexo. Para os religiosos (que não sou) a grande obra de arte de Deus foi
ter criado o homem. E, convenhamos, o que poderia ser mais simples que um ser
despojado de tudo? Apenas e só um corpo nu.
Na arte em geral e na poesia em particular, acho que o
mais belo é o simples, o mesmo é dizer; a poesia nua. No entanto, e aqui é que
reside a diferença entre o que eu penso e o que pensam as
"autoridades", creio que a poesia é demasiado abrangente para se poder
catalogar definitivamente o que pode e deve ser considerado poesia. Aos meus
olhos, seja poesia simples ou hermética, apologista de regras ou
neo-romantismo, etc, todos têm o direito de se verem englobados no conceito
maior de poesia. Tudo o resto serão sempre atribuições influenciadas pelas
correntes a que as "autoridades" estão confinadas.
MANU DIXIT
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarTalvez a poesia seja, afinal, a festa suprema da palavra - e quem ordena os gestos imprevisíveis esboçados por cada sílaba?
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