Tragédia
número 8
Ele o tal
amante que caminha na direção do terminal de ônibus vencido na palavra ou no
substantivo cansaço. Ele que sentiu em pretérito perfeito acoplado ao gerúndio,
pois que ainda está sentido a dor daquela faca em sua barriga, a tal dor irritantemente constante.
Ele a
pensar na canalhice daquela mulher que está prestes a se casar. Ele que pensa
em ligar para esta tal mulher e dizer o que tem que ser dito. Ele que pensa em
fazer o que não deve ser feito.
Ele que
muda de ideia e resolve parar na tal lanchonete e beber o tal suco de maracujá
com o intuito de acalmar os nervos.
Ele a
refletir sobre a palavra itinerário.
Ele que
sabe muito bem que a palavra itinerário rima com numerário e coisas do tipo.
Ele que
sabe que está do verbo estar com os dias contados. Ele que sabe que este seu
câncer é maligno e que começa a se espraiar pelo seu corpo. Ele tomado agora
pela palavra metástase.
Ele e o tal
suco frente a frente naquela mesa, naquela hora, naquele determinado lugar.
Ele agora a
assumir o papel do canalha que não respeita ninguém. Ele com a sensação
agradavelmente desagradável de quem comeu a mulher dos outros.
Ele que
sabe muito bem que se olhar para trás terá que se ver com a palavra itinerário
que rima com balneário e numerário.
Ele que
conta nos dedos as mulheres casadas que comeu no verbo comer. Ele em quem come,
come alguma coisa por algum motivo e em algum lugar certamente.
Ele que
sente mal devido à acidez do suco de maracujá. Ele com a visão turva dentro da
palavra diabético.
Ele que se
levanta e cai na calçada em frente ao terminal de ônibus.
Ele agora
sem lugar a recobrar o substantivo consciência num leito de hospital público.
Ele a se
recuperar no substantivo hospital. Alguém que entra no tal quarto e pergunta se
ele precisa de alguma coisa. Ele que não sabe que este alguém é o homem que
espetou o facão em sua barriga. Ele agora aterrorizado no ventre do verbo
estrangular.
Ele que
imagina ou pressente que será estrangulado. O homem que está prestes a dizer ou
a fazer alguma coisa. O homem que apenas diz que ele vai pagazr pelo que fez. O
homem que diz que sua reza é forte. O homem que vai embora e que diz que mesmo
que ele precisasse de alguma coisa ele não lhe daria. Ele que diz que o Messias
errou ao oferecer a outra face.
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