I
A
felicidade é um raio de sol que ilumina a multidão, e a palma da mão, apenas um
orifício por onde se filtra a nossa ignorância, para que na claridade, não se
veja a nossa insignificância dentro de nós mesmos. Aqui entre os habitantes do
verbo, quero medir a velocidade do teu olhar, virado para poente desse sorriso
que alimenta a alma, e segreda de soslaio, todos os atributos de um amor que
vem.
Toda a
maldade que percorre a imensidão das noites, desprende-se solteira sobre esse
galho que trazes entre as mãos e o seu odor amacia o dia. Então, sedento das
manhãs que cessam boa parte do tempo que durmo, finjo acordar para o infindo,
como quem a toda a hora escreve o silêncio da alma.
Não
terei o mesmo barco verde com risos nem poderei voltar da viagem a Ítaca sem
ter vivido as aventuras hipnotizado pelo perfume dos portos a que atraquei no
sonho, caso não resgate em mim a constância destes dedos em punho sobre a
escrivaninha escondida entre os dias em que não teço um só verso sublime. A
palavra simples e feroz sangra suavemente sobre o pálido papel que procuro nas
velhas bibliotecas ambulantes do meu bairro como alguém que perdido no palco da
vida não tem outra tarefa senão encenar.
Quero
aglutinar em mim todas as experiências do mundo! Quero ao entardecer percorrer
as mesmas ruas com a lua à espreita e sem mácula viver intensamente o momento.
A felicidade e o raio de Sol serão apenas amuletos desse momento em que digito
as palavras mágicas da nossa passagem pelo universo das vogais que calcorreiam
o meu estado.
Breve
biografia
M.P.Bonde
nasceu a 12 de Janeiro de 1980 em Maputo. Foi membro do projecto (JOAC) e do
colectivo Arrabenta Xithokozelo. Em 2017 lançou a sua primeira obra literária
“Ensaios Poéticos” pela Cavalo do Mar.
Vencedor da 1.ª
edição do Prémio Literário Fernando Leite Couto.
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