O
livro das intenções e fracassos.
Em
relação ao que foi exposto na tragédia número um, diríamos que após o
falecimento da adúltera o tal homem foi preso em se tratando de um réu
confesso. Ele cumpriria pena de vinte anos e sabe-se que cumpriu apenas doze
por bom comportamento, evoluindo para o regime que permitia sair de manhã da
prisão ou penitenciária e retornar à noite para dormir evidentemente.
Ele
andava então feliz pelas ruas de sua cidade e não sentia arrependimento algum
por haver matado a tal adúltera. Havia dentro de sua concepção retrógrada de
mundo entendido que sua honra manchada deveria ser lavada com sangue, no caso
em questão, com arsênico.
Ele
repentinamente esbarra num indivíduo ou num senhor que o olha bem fundo nos olhos
e pergunta a ele se não o reconhece. O assassino meneia a cabeça sugerindo que
não e o tal senhor diz que ele é o pai da filha que partiu deste mundo.
O
assassino da adúltera tenta se esquivar do tal senhor, mas ele agarra seu braço
de forma incisiva e diz que enquanto ele viver vai perseguir o referido haja o
que houver.
O
assassino da adúltera não diz uma palavra e retira o braço do pai da adúltera
do seu e segue em frente como se nada houvesse acontecido.
Ele
percebe que está sendo seguido pelo pai da adúltera e tenta desvencilhar-se do
mesmo entrando e saindo de becos e ruelas escuras.
Ele
percebe que despistou no verbo despistar o velho.
Ele
que tem a firme intenção de mudar de ares quando do cumprimento total de sua
pena. Ele que nunca manteve uma relação saudável com o pai da adúltera. Ele que
não conheceu a mãe da adúltera, pois que esta havia falecido de câncer
linfático muito cedo.
Ele
que dormia e acordava no ventre da palavra adultério.
Ele
que toda vez que ia a qualquer lugar lembrava-se daquela mulher que o havia
traído no verbo trair. Ele que sempre sonhava com a figura de Judas Iscariotes.
Ele
que nunca gostou do verbo enforcar em primeira conjugação ar.
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