As horas fundiram-se ao tempo que começou a seguir o
mesmo ritmo cadenciado. Já não havia um espaço entre o desejo e a realidade. Olhava
para um Brasil que não mais permanecia na direção dos olhos e percebia-me
integrada às paisagens lusas, antes mesmo do avião aterrizar.
O ar ainda quente de um verão a findar, o charme das
ruas de Lisboa, o sotaque que tanto admiro todas as impressões no caminho,
acarinharam-me a alma e a certeza de que por algum desvio geográfico cheguei
quase 46 anos atrasada a minha morada, embora metade de mim, sempre guardará
lembranças e sentimentos da Pátria Amada.
Não me sinto turista, nem imigrante, e muito menos
estrangeira. Não há limitações e/ou definições para quem sou agora. Apenas eu,
na totalidade do meu ser, ansiosa e sedente em adquirir o máximo de
conhecimentos e dar continuidade a minha caminhada, agora, com passos ainda
mais firmes, seguros e permanentes.
A certeza do caminho certo, no trabalho em criar
pontes e espalhar sementes,desde 2010, sempre integrando a lusofonia e buscando
elos de ligação entre Brasil e Portugal, sem deixar claro de olhar para a
África ainda pouco explorada por mim.
O respirar lento e profundo, inspirando cada instante
como quem quer reter, sorver e desfrutar o máximo dos segundos vividos, nessa
terra acalentada, admirada e referência de tantas vivências, empurram-me para
um novo tempo da minha história profissional e de vida, como se as fronteiras
deixassem de existir e me torna definitivamente parte integrante desses dois
mundos.
Talvez com algumas percepções e olhar admirado,
entusiasmado ou curioso diante das diferenças, que são muitas, e que nesse
momento deixo para outra oportunidade, mas nada que não seja facilmente
adaptável, afinal, de onde vim, as influências sempre foram portuguesas,
estivesse em Recife ou no Rio de Janeiro. Brasil e Portugal, cada qual com suas
características e , sempre exerceram em mim forte influência e não percebo o
limite onde começa um e acaba o outro, dentro do que me habituei a conviver,
partilhar e observar.
O vento, o tempo, a vida, o destino me trouxeram em
palavras o sentimento que no primeiro momento não consegui expressar tamanha a
emoção e o arrepio na pele e na alma, ao estar, finalmente, onde eu precisava,
queria e desejava chegar: “Bem-vinda à casa”, soaram como uma melodia que
jamais se esquece, parando por instantes os segundos e o respirar, assim que
dei meus primeiros passos nesse tão adorado Portugal, onde o Sol, me acarinhou
com o abraço de um novo tempo, de raios iluminados anunciando um novo porvir.
DRIKKA INQUIT
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