quinta-feira, 26 de outubro de 2017

EU FALO DE... EDITORES E EDITORES

Emanuel Lomelino (poesia), Isabel Stilwell (romance histórico) e Jaime Rocha (dramaturgia), em conversa com Carlos Ademar (romance)

Na sequência da minha participação no 2º Encontro Literário de Alenquer (LiterAl) e motivado por um trecho da resposta de Isabel Stilwell a uma pergunta colocada pelo moderador, trago-vos hoje uma pequena reflexão sobre a importância dos editores e a relação que estes devem manter com os autores.

A determinada altura da sua resposta Isabel Stilwell referiu que a sua editora era uma das pessoas, para não dizer "a pessoa", que mais a alertava para alguns detalhes que podiam e deviam ser mais trabalhados, ou trabalhados de forma diferente, de modo a que o produto final (neste caso o romance histórico) ficasse isento de falhas e/ou incoerências. Deu mesmo o exemplo de uma ocasião em que ela (a autora), no correr da caneta, nem deu conta que uma das personagens secundárias estava a ter um impacto maior que a personagem principal, e que nesse instante, foi a editora que alertou para esse pormenor e fez com que a autora regressasse atrás e trabalhasse de forma a retirar/diminuir esse protagonismo indevido.

Este testemunho, e um comentário apenso, do moderador, Carlos Ademar, no mesmo sentido, fez-me reflectir na diferença de comportamento que existe entre os editores mencionados, pelos dois romancistas, e aqueles que eu fui conhecendo ao longo dos anos.

A primeira grande diferença reside na relação que se estabelece entre os dois agentes. Nos casos supra-citados, mais que uma relação de negócio (sim, editar livros é um negócio) existe uma preocupação, por parte dos editores, em criarem uma maior proximidade com os autores; um maior acompanhamento ao longo do processo criativo; fazendo-os sentir que, em caso de necessidade, os autores têm nos seus editores, amigos com quem podem contar. Resumindo, neste casos os autores são muito mais que apenas clientes das editoras. 

No entanto, a minha reflexão não se baseia apenas na forma diferenciada como os editores interagem com os autores, mas sim nos diferentes objectivos que os movem.

Enquanto, no caso de Isabel Stilwell e Carlos Ademar, os editores trabalham de modo a potenciar todas as qualidades dos autores e das obras que editam, não só para conseguirem marcar a diferença no universo editorial e aumentar a qualidade dos livros, mas também para que os leitores sejam brindados com obras exemplarmente cuidadas e isentas de falhas, gafes ou incoerências, aqueles que conheço limitam-se a pegar nos manuscritos que lhes são enviados, trabalham na paginação e editam, sem se preocuparem, pelo menos, em manter uma linha condutora, coerente e criteriosa que, salvo prova em contrário, poderia muito bem beneficiar tanto as editoras como os autores.

Isabel Stilwell explicou-nos que esses pequenos detalhes, de aprimoração das obras, são essenciais na hora de definir se um livro é suficientemente bom para tiragens de 2500 exemplares e que, a sua experiência, de longos anos interagindo com essa editora, demonstrou-lhe o quanto é importante ter do lado, quase como colega de trabalho, alguém com a vontade de ajudar no sucesso do autor. O resultado dessa colaboração confirma-se na hora em que cada uma das obras desta autora passa para 2ª, 3ª e até 4ª edição.

No campo oposto, aquele que eu melhor conheço, acontece tudo menos essa simbiose de intenções. O editor oferece a possibilidade de o autor ver a sua obra editada, mediante contrapartidas financeiras que paguem de imediato a edição, sem qualquer critério ou cuidado editorial, e sem prestar qualquer auxilio na hora de definir estratégias que valorizem a obra e o autor.

Nestas diferenças de comportamento talvez encontremos a razão pela qual alguns autores têm edições de 2500 exemplares em contraponto aos que raramente chegam a edições de 500 exemplares, sendo que o segundo caso acontece simplesmente por interesse económico do editor. O que acaba até por revelar-se uma incoerência pois, se não me enganaram na hora de ensinar como se fazem contas, 2500 exemplares são capazes de dar mais dinheiro a ganhar do que fazer 500, sem critério e que dificilmente se venderão na totalidade.


Ou talvez seja tudo uma questão de qualidade dos autores... diga quem souber...

MANU DIXIT

4 comentários:

  1. "maior proximidade com os autores; um maior acompanhamento ao longo do processo criativo; fazendo-os sentir que, em caso de necessidade, os autores têm nos seus editores, amigos com quem podem contar." Isto Emanuel, é o que se espera, é o que deveria ser de todos os editores para todos os autores e todos cresceríamos e beneficiaríamos.

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  2. Foi um dos pontos que me deixou a pensar no muito que retive e aprendi neste encontro. De facto ser editora é mais que editar livros, é ajudar a melhorar. O que não acontece na realidade que conhecemos e vivemos. Felizmente o meu editor faz isso e no "Sem-abrigo, Escolha ou Destino?" apontou-me um capítulo que tive que alterar e ficou bem melhor, algo que eu não conseguiria se não fosse a opinião do editor.
    O problema das editoras e autores é os €€ que mandam, no caso das editoras e os autores de querem um livro editado. Há outro ponto que foi abordado de manhã com a Margarida Fonseca Santos e a Ana Meireles, chegam as editoras, às grandes editoras mais de 300 obras por dia e não há como serem lidas e avaliadas, ou o nome do autor já lhes diz algo ou a obra fica numa caixa de email...
    Em fica a mesma questão que já tenho há anos; como chegar a essas editoras? Ou se é já conhecido ou não se chega, é simples...ou não é assim?

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