Emanuel Lomelino (poesia), Isabel Stilwell (romance histórico) e Jaime Rocha (dramaturgia), em conversa com Carlos Ademar (romance)
Na sequência da minha participação no 2º Encontro
Literário de Alenquer (LiterAl) e motivado por um trecho da resposta de Isabel
Stilwell a uma pergunta colocada pelo moderador, trago-vos hoje uma pequena
reflexão sobre a importância dos editores e a relação que estes devem manter
com os autores.
A determinada altura da sua resposta Isabel Stilwell
referiu que a sua editora era uma das pessoas, para não dizer "a
pessoa", que mais a alertava para alguns detalhes que podiam e deviam ser
mais trabalhados, ou trabalhados de forma diferente, de modo a que o produto final
(neste caso o romance histórico) ficasse isento de falhas e/ou incoerências.
Deu mesmo o exemplo de uma ocasião em que ela (a autora), no correr da caneta,
nem deu conta que uma das personagens secundárias estava a ter um impacto maior
que a personagem principal, e que nesse instante, foi a editora que alertou
para esse pormenor e fez com que a autora regressasse atrás e trabalhasse de
forma a retirar/diminuir esse protagonismo indevido.
Este testemunho, e um comentário apenso, do moderador,
Carlos Ademar, no mesmo sentido, fez-me reflectir na diferença de comportamento
que existe entre os editores mencionados, pelos dois romancistas, e aqueles que
eu fui conhecendo ao longo dos anos.
A primeira grande diferença reside na relação que se
estabelece entre os dois agentes. Nos casos supra-citados, mais que uma relação
de negócio (sim, editar livros é um negócio) existe uma preocupação, por parte
dos editores, em criarem uma maior proximidade com os autores; um maior
acompanhamento ao longo do processo criativo; fazendo-os sentir que, em caso de
necessidade, os autores têm nos seus editores, amigos com quem podem contar.
Resumindo, neste casos os autores são muito mais que apenas clientes das
editoras.
No entanto, a minha reflexão não se baseia apenas na
forma diferenciada como os editores interagem com os autores, mas sim nos
diferentes objectivos que os movem.
Enquanto, no caso de Isabel Stilwell e Carlos Ademar,
os editores trabalham de modo a potenciar todas as qualidades dos autores e das
obras que editam, não só para conseguirem marcar a diferença no universo
editorial e aumentar a qualidade dos livros, mas também para que os leitores
sejam brindados com obras exemplarmente cuidadas e isentas de falhas, gafes ou
incoerências, aqueles que conheço limitam-se a pegar nos manuscritos que lhes
são enviados, trabalham na paginação e editam, sem se preocuparem, pelo menos,
em manter uma linha condutora, coerente e criteriosa que, salvo prova em
contrário, poderia muito bem beneficiar tanto as editoras como os autores.
Isabel Stilwell explicou-nos que esses pequenos
detalhes, de aprimoração das obras, são essenciais na hora de definir se um
livro é suficientemente bom para tiragens de 2500 exemplares e que, a sua
experiência, de longos anos interagindo com essa editora, demonstrou-lhe o
quanto é importante ter do lado, quase como colega de trabalho, alguém com a
vontade de ajudar no sucesso do autor. O resultado dessa colaboração
confirma-se na hora em que cada uma das obras desta autora passa para 2ª, 3ª e
até 4ª edição.
No campo oposto, aquele que eu melhor conheço,
acontece tudo menos essa simbiose de intenções. O editor oferece a
possibilidade de o autor ver a sua obra editada, mediante contrapartidas
financeiras que paguem de imediato a edição, sem qualquer critério ou cuidado
editorial, e sem prestar qualquer auxilio na hora de definir estratégias que
valorizem a obra e o autor.
Nestas diferenças de comportamento talvez encontremos a
razão pela qual alguns autores têm edições de 2500 exemplares em contraponto aos
que raramente chegam a edições de 500 exemplares, sendo que o segundo caso
acontece simplesmente por interesse económico do editor. O que acaba até por
revelar-se uma incoerência pois, se não me enganaram na hora de ensinar como se
fazem contas, 2500 exemplares são capazes de dar mais dinheiro a ganhar do que
fazer 500, sem critério e que dificilmente se venderão na totalidade.
Ou talvez seja tudo uma questão de qualidade dos
autores... diga quem souber...
MANU DIXIT
"maior proximidade com os autores; um maior acompanhamento ao longo do processo criativo; fazendo-os sentir que, em caso de necessidade, os autores têm nos seus editores, amigos com quem podem contar." Isto Emanuel, é o que se espera, é o que deveria ser de todos os editores para todos os autores e todos cresceríamos e beneficiaríamos.
ResponderEliminarGrato pela visita comentada.
EliminarFoi um dos pontos que me deixou a pensar no muito que retive e aprendi neste encontro. De facto ser editora é mais que editar livros, é ajudar a melhorar. O que não acontece na realidade que conhecemos e vivemos. Felizmente o meu editor faz isso e no "Sem-abrigo, Escolha ou Destino?" apontou-me um capítulo que tive que alterar e ficou bem melhor, algo que eu não conseguiria se não fosse a opinião do editor.
ResponderEliminarO problema das editoras e autores é os €€ que mandam, no caso das editoras e os autores de querem um livro editado. Há outro ponto que foi abordado de manhã com a Margarida Fonseca Santos e a Ana Meireles, chegam as editoras, às grandes editoras mais de 300 obras por dia e não há como serem lidas e avaliadas, ou o nome do autor já lhes diz algo ou a obra fica numa caixa de email...
Em fica a mesma questão que já tenho há anos; como chegar a essas editoras? Ou se é já conhecido ou não se chega, é simples...ou não é assim?
Grato pela visita e partilha de experiência...
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