terça-feira, 19 de setembro de 2017

EU FALO DE... PLÁGIO E PLAGIADORES

Aproveitando a recente polémica do cantor acusado de plagiar alguns dos seus grandes sucessos e depois de ler muitas opiniões vulcânicas sobre o assunto, decidi vomitar as minhas postas de pescada sobre o tema, ou não fosse eu acometido de intenso prurido e alergia pura quando há plágio. Aliás, como muitos saberão, alguns dos meus castigos no Facebook aconteceram após as denúncias públicas que fiz de algumas páginas onde essa prática é recorrente.

Este caso traz à tona algumas questões pertinentes e, sem admiração, reparei que num assunto que deveria ser consensual, existem grandes divergências e inexplicáveis contradições na hora de avaliar este fenómeno.

Não tenho competência, nem conhecimento efectivo, para poder alegar a existência ou não do crime, no entanto, como tenho dois olhos na cara e, pasmem-se, até gosto de pensar, analisei a questão, tal qual foi noticiada pelos órgãos de comunicação social (que não TVI ou CMTV) e não consegui detectar inocência do artista, mais não seja pela demonstração, de culpabilidade, clara e inequívoca, do próprio, ao alterar o registo de algumas canções, de autor para adaptador. Ah... fazendo-o somente após a bomba ter rebentado e o caso vir a público.

Mas, apesar das evidências, há sempre alguém que defende de unhas e dentes o culposo. Neste caso específico, creio que essa defesa cega prende-se mais pelo mediatismo do artista que, mesmo não estando dentro das minhas preferências musicais, não me custa admitir, é um cantor de massas e essa condição cria uma aura de intocabilidade que, até há muito pouco tempo, seria muito complicado desconstruir e combater.

Um aspecto interessante nas reacções, no Facebook, que tive oportunidade de ler, e que sempre acontece em casos mediáticos, é a intolerância, cada vez maior, à opinião de terceiros. Quando aparece uma polémica, os lados têm tendência a extremar-se e, na generalidade das vezes, acaba em discussões de teor ofensivo, para não dizer mal educado e de baixo nível, bem longe do assunto que gera a discórdia.

Nestas alturas, todos são donos da razão e, vai-se lá saber como e desde quando, transformam-se em entendidos profundos e analistas conhecedores das matrizes e leis aplicáveis. Neste caso até apareceram opinadores com vastos conhecimentos sobre a legislação e, em simultâneo, sobre questões técnicas do foro musical.

Mas o mais caricato, para mim, foi observar como algumas das pessoas que desvalorizam o plágio nas redes sociais, nomeadamente no plágio descarado aos textos que muitos autores aqui partilham, foram os primeiros a apontar o dedo à prevaricação do cantor, usando os argumentos que consideram inválidos quando se trata de plágio de poemas. Acho engraçado que neste caso venham dizer que existe plágio nem que seja por uma frase semelhante, quando em situações similares, mas menos mediáticas, argumentam que frases iguais não significam plágio mas sim formas idênticas de exprimir. Afinal em que ficamos? Por que razão querem traçar linhas distintas na hora de avaliar as situações de plágio? Será que só é plágio se os envolvidos forem figuras mediáticas? Por que razão deve existir um peso e uma medida para poemas de canções e outros diferentes para poemas apenas escritos?

Mas o mais engraçado de tudo foi ler um acérrimo comentário, feito por um individuo muito indignado pelo descaramento do cantor em usar meios tão baixos para alcançar sucesso e que, segundo a sua perspectiva, se o cantor não conseguia escrever poemas para as suas músicas que os comprasse e não roubasse as frases de outros autores. E ler este comentário foi engraçado porque, quem o fez, foi administrador de um grupo de onde fui expulso por ter acusado, com provas, este mesmo administrador de plagiar uma autora amiga, usando 14 (catorze) adjectivos, para definir o amor, e pasmem-se, na mesma sequência. Na época, este senhor teve o descaramento de me dizer que não tinha plagiado coisa alguma, apenas se tinha inspirado no texto da autora e que a sequência tinha sido mero acaso. Claro que sim... eu vi mal e nem dei conta que estava perante um texto com 14 coincidências, coincidentemente alinhadas.

Se por um lado, ter lido o comentário deste senhor, fez-me rir e recordar o que o mesmo fazia, por outro lado deixou-me tremendamente satisfeito pois os meus argumentos da altura fizeram um plagiador virar acérrimo combatente do plágio.


MANU DIXIT

2 comentários:

  1. Uma excelente reflexão sobre o plágio, infelizmente ainda existem muitos "leitores" que o consideram normal, e muitos autores que não o denunciam!

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    1. Infelizmente, o comodismo dos autores ainda é grande neste assunto e, entre outras razões, deve-se muito à falta de celeridade nas decisões judiciais em casos desta natureza. Quando estes casos demorarem menos de dois anos para receberem sentenças e começarem a aparecer condenações efectivas, talvez aí os autores mudem um pouco a sua postura. Grato pela visita comentada.

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