Um dos aspectos que me deixa sempre com pé atrás, em
relação a alguns autores, provém da frase gasta e ilógica: "Escrevo com a
alma". Gasta, por tantas vezes usada, ilógica porque ninguém escreve com a
alma, quanto muito com lápis ou caneta, ou no teclado do computador.
Mas façamos de conta que há mesmo quem escreva com a
alma... nesse caso, lamento muito informar, essas almas são tremendamente
incoerentes e a única coisa que fazem é levar o seu proprietário ao descrédito.
Como disse, fico de pé atrás quando oiço alguém dizer
que escreve com algo incorpóreo e depois, quando leio o que essa alma escreveu,
vejo coisas do género: "Naquele dia a lua estava luminosa" e a única
explicação que encontro para tal fenómeno é a possibilidade dessa alma ter
escrito no Inverno árctico dos países escandinavos ou no alaska. E mesmo
assim tinha de ser num dos raros
momentos em que o céu fica limpo.
Outra muito frequente é: "A brisa soprava
forte"... Eu sei que deixei a escola há muitos anos mas, recordo-me
perfeitamente, a definição de brisa, por si mesma, estabelece que estamos
perante um vento fresco, brando e leve. Ora, assim sendo, quando sopra forte
deixa de ser brisa para ser apenas vento.
E como estes, encontram-se muitos outros exemplos.
Eu sei que pode parecer mesquinho fazer estas
observações, no entanto, é nestes pequenos detalhes que reside a diferença
entre um bom texto e mais um texto.
Também sei que, hoje em dia, a generalidade dos
autores sente uma tremenda urgência em alimentar regularmente os seus leitores
e assim receber a sua quota de likes e comentários. Mas, convenhamos, para
receber os comentários que recebem, podem muito bem gastar mais uns cinco
minutos a burilar o que escrevem. Ok, compreendo que esses cinco minutos e esse
trabalho de aperfeiçoamento vos retira essa imagem de espontâneos e deita por
terra o espírito "escrever com a alma", mas como isso não existe, deixem-se
de tretas e cuidem melhor os vossos textos.
MANU DIXIT
Bem observado.
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