sábado, 26 de agosto de 2017

FALA AÍ BRASIL... ADRIANA MAYRINCK


Apenas uma palavra.

A vida tem dessas coisas que não se explica. A palavra saudade sempre esteve presente na minha vida, como segundo nome. E é uma das mais belas que considero da língua portuguesa. Pelo que traduz, pelo que significa, pela sonoridade.

No meu sentimento, saudade era saudade e sem necessidade de grandes explicações. Mas ao receber de presente de Laura Areias, portuguesa, escritora, ficcionista, poetisa e jornalista, em uma manhã de nostalgia, dois livros de Alfredo Antunes, falando justamente sobre o tema, até sorri, intrigada, com a coincidência dos títulos: Saudade e Profetismo em Fernando Pessoa e A Saudade alma da alma portuguesa.

Embevecida desde o prefácio, mergulhei com sede nesse oásis de conhecimento, da alma do Fernando Pessoa, que também é inserido no segundo livro, e da pesquisa e sentimento do autor, que tanto eu me identifiquei.

E descobri tantas vertentes e formas em que a saudade está presente, como palavra, como sentimento, como representatividade da alma lusíada, como linguagem, como arte, como vida, como manifestação, como filosofia. No espaço do tempo, saudade não representa só o passado, transcende também para o futuro. A saudade da infância lírica, a saudade profética, e a cada capítulo, dois livros, distintos e ao mesmo tempo tão interligados, admirei imensamente a capacidade quase genial desse autor, professor, pesquisador, doutor na arte da saudade, em vivência, pesquisa e escrita.

Nas mais de 500 páginas, de Saudade e Profetismo em Fernando Pessoa, descobri-me envolvida por um sentimentalismo e saudade imensa pelo Poeta, e todas as suas faces e intimidades. Pessoa tem uma forma muito particular de integrar-se na temática saudade, constante em suas cartas e poemas, essa sensação de estrangeiro e apátrida, é o que mais me comove, quando mergulho em seu lirismo saudoso, assim, fazendo-me quase confidente e cúmplice, partilhando as mesmas impressões. “A minha pátria, é onde não estou”.

E já que a saudade continuará sempre inefável e estranha, como cita o autor, em A Saudade, alma da alma portuguesa: passado e futuro deixam de ser percebidos como contrários, ao refluírem em um presente alargado e circular. A saudade não deixa morrer o passado enquanto vai imobilizando o futuro. Gera-se uma tendência de eternização...

“Porque o presente é todo o passado e todo o futuro” como escreveu, Àlvaro de Campos.

Esse sentimento tão difícil de definir e intraduzível, essa ausência quase presença de tempos, pessoas, momentos e que a alma lusíada sabe expressar quase que concretamente na poesia, no fado, no Tejo, na filosofia, na religiosidade, na arquitetura, na história e principalmente por sua gente, onde se faz o eco do coração e da alma portuguesa, que chega até nós...

Do lado de cá do oceano.


DRIKKA INQUIT

6 comentários:

  1. Muito lindo! Somos irmãos e não tem como não se embevecer de tatá delicia poética.

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  2. Saudade, um sentimento que só os sensíveis sabem sentir. Uma massa que modelamos ao longo da vida, como bálsamo e também incentivo. Já estou com in-finitas saudades de ti, amiga! Beijos.

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  3. Há um tipo de saudade... que muitos poetas cantaram... bj...

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    1. Grata Lúcio pelo comentário. A saudade é poética, é lírica...

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