A chama invisível queimava e crepitava em meu
pensamento por horas seguidas, enquanto eu ardia no inconformismo do meu ser.
Percorro pelo espaço de egos e ecos, desde quando me fiz pertencer ao mundo das
artes, seja produzindo, participando ou observando.
E a incoerência nisso tudo, é que no universo, em que
a sensibilidade e o ser são a expressão máxima para a criação, seja ela na
poesia, pintura, música, ou qualquer outro movimento literário ou cultural, é
onde a banalidade, a pequenez e a futilidade do humano, se expandem de forma
nem sempre óbvia, mas crescente.
Donos do mundo e da verdade, por terem o dom divino do
encantamento, creditam e ditam aos pobres mortais que apreciam e se deixam
envolver, a ditadura do EU.
Há décadas atrás, a vida pública daquele que detinha
esse dom de professar a arte, era certificada ao ultrapassar o limite das
fronteiras, do tempo, e só dominava outros espaços com talento comprovado por
obras avaliadas pela crítica especializada, fã clube presencial, e análise de
mercado.
Sigo por anos intermináveis, artistas de diversas
formas, acreditando na eternidade da boa arte e aprecio esses gênios que foram
capazes de superar o limite do tempo, com o esforço, inspiração, transpiração e
talento para hoje fazerem jus ao título e nome que carregam.
Mas a era da comunicação invadiu o intervalo entre a
coerência, a construção, a obra, a criação, e transformou qualquer palavra em
poesia, qualquer livro em bestseller, qualquer músico em personalidade,
qualquer pessoa em autor, qualquer artista em famoso, e qualquer pintura em
obra de arte.
Sou aberta a todas as formas de expressar o que
transborda da alma, e acho que o ser humano tem todo o direito de fazê-lo, e
defendo isso, dentro dos limites que esse novo tempo não determinou. Mas cá
entre nós, essa janela para o mundo não é para “todos”.
Uma postagem nas redes sociais e todos são venerados e
aplaudidos nos bastidores invisíveis do quem tem mais curtidas e seguidores. E
intrinsecamente legitimam, sem critérios, quem é ou não senhor do universo
artístico ou literário, pelo menos naquele espaço que circula e dá voltas por
todos os continentes.
E nos bastidores, ah, o circo é montado e por todos os
lados, tapetes estendidos, também são puxados, em um piscar de olhos, na
cadeira reservada para que o amigo menos talentoso, mas vantajoso, possa ocupar
para o segundo de flashes e postagens firmarem a notoriedade daquele instante.
Alguns olhares mais atentos e éticos observam silenciosamente, o burburinho que
se alastra igual rastilho de pólvora, no disse-me-disse que circula, no ar que
sufoca e abafa verdades.
Academias de letras aceitando semianalfabetos, autores
despreparados, atores inexpressivos, exposições fotográficas registradas por
celular, livros mal editados, compositores desacertados, cantores desafinados,
jornalistas então... nem comento. Postam um vídeo aqui, um texto ali, e são
aclamados. Produtores que fazem qualquer evento, superlotando o espaço, sem a
responsabilidade com as vidas humanas, sem certificação e vistoria.
E por essas e outras, nessa era digital, caminha-se
para a banalidade da expressão artística e cultural, onde todos são o que
desejam, só porque se olham no espelho e decidem, e aquele amigo solidário
curte e partilha, e assim nasce, quando menos se percebe, um deus ou deusa
crepitando nas brasas da suposta e momentânea fama, criada para ser extinta
minutos depois... ou não.
Até onde vai o limite do ser criador... E nós, até
onde permitimos conduzir a perpetuidade do belo, do legítimo, da arte, nesse
clicar de curtidas instantâneas, jogando mais lenha na brasa que surgiu para
ser apenas... cinzas.
DRIKKA INQUIT
Sem comentários:
Enviar um comentário
Toca a falar disso