quarta-feira, 30 de novembro de 2016

EU FALO DE... MODO DE ESTAR NA VIDA


Acho piada ao modo como muitas pessoas reagem aos meus textos mais contundentes. Acho piada porque essas mesmas pessoas, que apregoam a moralidade e a verdade acima de tudo, doa a quem doer, não comentam os meus textos de forma pública, de peito aberto, preferindo fazê-lo a coberto das mensagens privadas que me mandam.

É evidente que tenho de respeitar esse querer dar-se bem com deus e com o diabo. Só que essa não é a minha forma de estar na vida. Se há algo de que posso orgulhar-me é de ser capaz de pensar pela minha cabeça e dizer o que tenho de dizer, na hora que achar mais conveniente ou apropriado, doa a quem doer.

Dito isto, e fazendo referência a uma das últimas mensagens que recebi sobre o meu texto SOLIDARIEDADE ENTRE AUTORES, sinto ser o momento adequado para esclarecer publicamente alguns equívocos, que pululam as mentes dos menos atentos, sobre o meu comportamento.

Tenho sido acusado, entre outras coisas, de andar a cuspir nos pratos onde tenho comido. Desconheço a exactidão das palavras que andam de boca em boca mas é muito fácil para mim rebater essa acusação.

Em toda a minha vida, sempre soube separar o trigo do joio e o facto de ter recebido ajuda, auxílio ou o que lhe quiserem chamar, nunca me impediu, nem impedirá, de tecer críticas a comportamentos que considero menos acertados. E as críticas que faço não apagam o reconhecimento que tenho pelas pessoas e pelo que eventualmente possam ter feito por mim.

E se sou assim na vida também o serei sempre neste universo da escrita.

O facto de Xavier Zarco ter sido um dos editores dos meus primeiros livros nunca me impediu de discordar com algumas das suas atitudes e não só o fiz publicamente como também olhos nos olhos. E apesar dessas divergências também lhe soube reconhecer alguns méritos.

O facto de Paulo Afonso Ramos ter-me editado cinco vezes, três das quais em condições excepcionais e inéditas, nunca me impediu de falar, tanto publicamente como na sua presença, de aspectos relacionados com os meus livros que poderiam ter sido melhor geridos. Apesar desses desencontros sempre disse, e também de forma pública, do respeito que tenho pela forma como está neste meio e pela forma como tem arriscado muito, a nível pessoal e não só, em nome da cultura.

O facto de Paula Oz ter-me proporcionado a execução de alguns trabalhos, remunerados, para a Edições Oz, numa altura complicada da minha vida, nunca me impediu de tecer comentários, de forma pública e também olhos nos olhos, sobre algumas situações em que considerei ser necessário fazê-lo. Isso nunca invalidou que lhe reconheça enorme mérito no papel que tem desempenhado na divulgação das obras de muitos autores.

O facto de Gonçalo Martins ter-me convidado para publicar na Chiado Editora, em condições especiais e fora do comum, nunca me impediu de tecer algumas considerações sobre a forma como está mal acompanhado em alguns departamentos da editora. No entanto, nunca deixarei de lhe reconhecer o mérito e a capacidade enquanto homem de negócios.

O facto de António Vieira da Silva ter-me convidado para executar um trabalho para a Edições Vieira da Silva não me impediu de tecer algumas críticas à forma como as suas antologias são elaboradas ao mesmo tempo que lhe reconheço o trabalho que tem feito em nome dos livros.

O facto de Maria José Lacerda, da Editora Universus, ter-me proporcionado a minha primeira apresentação no Porto, mesmo não sendo um autor editado por si, nunca me impediu de tecer alguns comentários menos abonatórios sobre alguns dos seus eventos, no entanto sempre lhe reconheci os méritos do muito que fez pelos livros e pelos autores.

Posto isto, resta-me dizer que a gratidão que tenho pelas atitudes, pelos gestos, pelas ajudas e pelos apoios que me deram nunca me influenciarão na hora em que eu tiver de falar sobre aspectos e comportamentos que possa considerar menos próprios. A gratidão manter-se-á sempre tal como a rectidão e a frontalidade, porque estar grato não obriga a compactuar com o que se considera errado.

E se chegar à conclusão de ter sido injusto, então, também saberei assumir, em público e cara a cara, o meu erro. Porque não me escondo nos sussurros e nos comentários privados.

Enfim, eu e o meu estranho modo de estar na vida.


MANU DIXIT

4 comentários:

  1. Emanuel, não considero nada que o teu modo de estar na vida é "estranho" como rematas o teu texto!
    É a tua forma e, para mim, a forma correta, com a frontalidade que te caracteriza.
    Continua a ser como és, posso não te comentar muito porque nem sempre te leio mas, quando o faço, gosto SEMPRE do que escreves e da pessoa que és.
    Beijinho grande.

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    1. Muitas pessoas apregoam a excelência de certos valores mas depois sentem-se incomodados quando confrontados com eles. Outras, e este texto é-lhes dedicado, julgam fazer uso dessa frontalidade opinando sobre aquilo que não sabem e fazendo juízos de valor errados sobre quem desconhecem.
      Obrigado pela visita e pelas palavras.
      Beijos.

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  2. Muito pertinente este texto mas claramente não me afecta. Sou, também eu, bastante frontal e nunca "mandei dizer" e jamais costumo "falar pelas costas" porque abomino quem o faz e desprezo veementemente covardia e maledicência gratuita de quem muitas não se conhece a fundo e para quem, nem nunca se falou. És a pessoa que és e assim deves continuar. Quem gosta de ti, compreende e continuará a gostar e ao teu lado para o que der e vier, os outros... não nos fazem falta. No entanto, convirás que a ti talvez te permitam certos reparos que a outros (no meu caso) e estarás bem ao corrente de algumas situações só levaram a que fosse ainda mais ignorada e mal falada "com ajudas dos e das se sempre!" A verdades custam a engolir, não que eu seja dona da verdade e não tenha também imensos defeitos mas assumo-os se mos esfregam na cara e NUNCA por nunca ser jamais andei a falar mal deste ou daquele ou a "fazer-lhe a cama" que é o mais triste e reles dos comportamentos. Eu... sou como sou! Sou burra velha e já não mudo, nem quero! Gosto de ser como sou e como te disse, quem gosta de mim, tem nos meus braços sempre um porto de abrigo sincero que n~qo gosta ou inveja... temos pena! Sabes bem que nunca me "maquilhei" para ficar bem no "retrato". Um beijinho e todo o sucesso do mundo.

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    1. Não há nada como estar de cara lavada e cabeça erguida.
      Grato pela visita e mais este testemunho.
      Beijos

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