Na sequência da análise crítica que fiz ao livro
Antologia do Silêncio, de Susana Inês, e depois de ler alguns textos sobre o
que é, pode e deve ser considerado poesia, achei apropriado pegar no tema e
fazer algumas reflexões/considerações.
Tirando os aspectos históricos e ideológicos, o
romantismo, enquanto corrente literária, baseia-se na oposição absoluta à
utilização das regras dos clássicos (no caso da poesia: métrica e rima).
Se tivermos em linha de conta, apenas e só, este
aspecto técnico somos obrigados a reconhecer que a esmagadora maioria dos
autores actuais pertence à corrente romântica. No entanto, o romantismo exige
um pouco mais de critério e, para separar o trigo do joio, existem mais alguns
parâmetros, a serem respeitados, para que um autor possa ser considerado
romântico.
Logo à partida, e talvez por isso uma das
características mais utilizadas, uma visão do mundo muito centrada no
indivíduo, roçando, quase como modus operandi obrigatório, o egocentrismo
exacerbado.
Noutra perspectiva, o romantismo tem sempre de incluir
um elevado grau de subjectividade alicerçado num profundo e constante
sentimentalismo emocional.
Outra das características definidoras do romantismo é
a interacção do autor/criador/eu poético com os diversos elementos da natureza.
No fundo, e de um modo mais redutor e simplista, o
romantismo, como corrente literária, exige que os seus aficionados revelem um
idealismo subjectivo com forte ligação à natureza, de forma egocentrista,
negando sempre as regras estéticas dos clássicos.
Através desta minha definição rústica, qualquer um
consegue identificar de imediato a ligação de muitos autores actuais com esta
corrente literária e "etiquetá-los" com o romantismo.
Contudo, especialmente na poesia, e fazendo uso de um
adágio popular, "nem tudo o que parece é". Grande parte dos autores,
cuja escrita contém os elementos exigidos pelo romantismo, estão a incorrer no
auto-engano pelo mero facto da sua escrita ser tudo menos poesia, porquanto,
nem mesmo o romantismo consegue fugir ou contornar aquilo que é essencial na
poesia: qualidade da escrita, coerência do discurso, elementos estéticos e,
acima de tudo, componente filosófica.
Muitos argumentam que a subjectividade exigida no
romantismo permite ignorar estes aspectos. Outros dirão que a recusa das regras
justificam o incumprimento destes requisitos. Puro engano meus senhores.
A componente subjectiva do romantismo limita-se ao
discurso dos textos e não aos conceitos de qualidade e a negação das regras
aplica-se apenas à inexistência de métricas e rimas. Tudo o resto continua a ser
imprescindível.
Se assim não for não pode ser considerado poesia.
MANU DIXIT
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