No seguimento do meu artigo anterior sobre a
lusofonia, não posso deixar passar a oportunidade de tecer algumas
considerações relativamente à minha presença na Feira do Livro e Festa Lusófona
de Genebra 2015, realizada, na Salle des Fêtes d'Avanchet, pela Association
Culturelle Luso-Suisse Laços, a cujos representantes, José Sebastião e Ana
Casanova, tenho de agradecer pela repetição do convite que me fizeram.
Quem, tal como eu, também marcou presença em 2014,
reparou certamente nas inúmeras diferenças entre o evento deste ano e o do ano
passado. Os melhoramentos foram substanciais e, creio não estar a exagerar, o
sucesso foi maior.
Normalmente os balanços fazem-se analisando o todo e
deixando de lado os detalhes mais ínfimos, no entanto, permitam-me fazer um
relato mais cronológico deste grande fim-de-semana lusófono.
Julgo ser apropriado dizer que a festa começou bem
antes da entrada na Salle des Fêtes d'Avanchet, mais concretamente no aeroporto
de Lisboa, onde me cruzei com outros autores (Carlos Peres Feio/Moçambique,
José Proença de Carvalho/Portugal) e artistas plásticos (Sidney
Serqueira/Guiné-Bissau e César Sousa/Portugal) também convidados pela
organização.
Quando chegámos ao aeroporto de Genebra fomos
recebidos, não só pelos membros da organização (José Sebastião/Presidente da
Association Culturelle Luso-Suisse Laços e Ana Casanova/Angola) mas também por
mais convidados que tinham rumado de outras origens (Emílio Lima/Guiné-Bissau,
Regina Correia/Portugal e Karyna Silva Gomes/Guiné-Bissau e os elementos da sua
banda) e outros amigos que fizeram questão de nos dar as boas vindas.
E assim, com um grupo considerável, continuou a festa
em pleno aeroporto de Genebra enquanto se esperava por mais uma autora (Olinda
Beja/S. Tomé e Príncipe). Após a sua chegada, fomos distribuídos por duas
viaturas e levaram-nos para um hotel em França, onde pernoitamos para recuperar
forças para a verdadeira festa da lusofonia.
Um pequeno apontamento de curiosidade. Este grupo de
autores e artistas lusófonos foram recebidos no Hotel por um recepcionista...
brasileiro. A lusofonia sempre em destaque...
O primeiro dia de festividades contou com mais
presenças de autores do que o ano passado, o que demonstra o interesse que esta
iniciativa tem gerado junto daqueles que fazem da escrita o seu modo de
expressão. Para além dos já citados, e dos repetentes Alexandre Deus
Monteiro/Cabo Verde e Jacqueline Aisenman/Brasil, tivemos a companhia de
Catarina Sousa, Augusto Lopes, Manuel Bernardo, Reto Monico e Manuel Nascimento,
autores lusófonos residentes em França e Brenda Bortolini, autora de literatura
infanto-juvenil, em representação do Brasil.
Durante este primeiro dia assistiram-se a diversas
apresentações de livros dos autores convidados para o certame e um, muito
especial para mim (fui o apresentador da obra), feito pelos alunos das aulas de
português d'Avanchet com coordenação da Professora Anabela Morgado, chamado
Aventuras nos Açores.
Com um dia cheio de actividades culturais lusófonas,
destaco o concurso de máscaras para crianças, uma exposição de fotografia (que
se prolongou pelo segundo dia), um desfile de moda com peças idealizadas por um
estilista guineense e a contribuição de números musicais e de dança, de onde
destacarei a presença de uma tuna académica de estudantes portugueses da Suiça,
de uma escola de Kizomba e a actuação de Karyna Gomes, uma das vozes referência
da actual música guineense.
Não posso terminar o relato do primeiro dia sem fazer
referência a dois autores suíços que voltaram a marcar presença este ano:
Sylvain Thévoz e, especialmente, Jessica Da-Silva Villacastin, por todo o
carinho demonstrado.
O segundo dia também foi intenso no que diz respeito a
actividades, no entanto, para além da presença de diversos grupos folclóricos
de portugueses de Genebra, permitam-me que resuma o dia em duas fases. A
primeira, durante a manhã, faço questão de a referir porque é de toda a justiça
dizer que, sem os inúmeros portugueses que se voluntariaram para levar a bom
porto este evento, o sucesso nunca poderia ter sido alcançado da forma que foi.
Pois bem, como forma de agradecimento pelo modo como se empenharam em todos os
aspectos e em todos os momentos, a escola de Kizomba decidiu dar uma aula aos
voluntários e foi vê-los dar uns passinhos de dança e assim sentirem um pouco
mais a festa que ajudaram a organizar.
O segundo momento, que quero mencionar, foi tão
intenso que creio não ser disparate se disser que ninguém na sala ficou
indiferente e, pelo menos durante alguns minutos, todos deixámos de lado a nossa
nacionalidade para abraçar de corpo e alma as dores do povo guineense quando, o
poeta Emílio Lima, entre duas actuações de um dos grupos folclóricos, disse o
que lhe ia na alma pelo momento actual da sua/nossa Guiné-Bissau através do
poema "Não me peçam explicações". Um momento que ainda agora, que
escrevo sobre ele, me faz arrepiar.
Dito isto e para terminar, quero dizer que foi uma
honra ter participado, uma vez mais, neste grande evento da lusofonia e faço
votos que, para o ano, a organização consiga fazer mais e melhor. O evento
deste ano foi um sucesso mas há sempre aspectos a melhorar. Aqui chegados,
seria uma leviandade da minha parte não agradecer ao Zandonaide Silva (membro
da organização), responsável, entre outras coisas, por apagar os fogos que as
minhas reclamações provocam.
Reclamações à parte, viva a lusofonia!
MANU DIXIT
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