O TOCA A FALAR DISSO É UM BLOGUE QUE GOSTA DE DAR VOZ AOS AUTORES DO UNIVERSO DA LUSOFONIA E QUANDO O AUTOR FILIPE MARINHEIRO ENTROU EM CONTACTO COM ESTE ESPAÇO PARA FALAR UM POUCO DA SUA OBRA, A RESPOSTA NÃO PODIA SER OUTRA.
Filipe Marinheiro nasceu em Coimbra, 30 de Julho de 1982.
É natural e reside em Portugal Cidade de Aveiro. Poeta.
Chegou em Dezembro de 2013 às livrarias o novo livro de Filipe
Marinheiro intitulado “Silêncios” pela Chiado Editora. A obra reúne cerca de
270 poemas inéditos em 378 páginas.
Em desdobramentos melancólicos entre poesia em prosa e verso, a
realidade poética é uma densa complexificação que devora o universo e é, ao
mesmo tempo, devorada por ele.
A escrita desta segunda obra do jovem poeta é pautada pela construção e
desconstrução da linguagem, resultando numa poesia de transfiguração e
transmutação, caracterizando o sujeito poético como plural, obscuro e
enigmático. Léxicos múltiplos, caminhos diversos para dar a conhecer os
diferentes acontecimentos da sensibilização, a fim de exprimir o que mais puro
existe na existência. Em “Silêncios”, a rebeldia e fragmentação da linguagem
quase que hipnotiza a atmosfera envolvente, desenvolvendo uma sobre-realidade
alquímica e mística, purificando a própria palavra e o vazio absoluto.
A força motriz da sua obra concentra-se nesse excesso do sensível,
duplamente graça e maldição. Se por um lado, confere acesso a mundos mágicos e
ao encanto dos sentidos pela sensibilidade e imaginação, por outro lado,
exponencia o sofrimento, a angústia, a dor, a revolta causada pela violência da
opacidade e agressividade do mundo, realidade insuportável que estremece o seu
universo poético. Poesia de deambulação, vigília inquieta, procura ofegante de
espaço vital, grito infinito da fragilidade extrema do ser humano nesta subtil
inércia das forças.
O leitor é arrastado por um turbilhão de sentidos, em desvios múltiplos,
num excesso imagético — despido e desamparado encontrará a verdade do ser.
Apesar de uma poesia marcadamente desassossegada e melancólica, a tónica da
mensagem de Filipe Marinheiro é esperança de resolução do mundo pela suavidade,
beleza e pelo amor.
Para que se possa melhor conhecer este autor, o único caminho é lê-lo,
atravessar a obra para encontrar os seus próprios “Silêncios”.
É possível encontrar uma forte influência dos poetas: Al Berto, Herberto
Helder, Artur Rimbaud, Mário Cesariny, Eugénio de Andrade, António Ramos Rosa,
Lautréamont, Paul Verlaine, Stéphane Mallarmé, Charles Baudelaire, Paul Bowles,
Antonio Gamoneda, entre outros...
OPINIÃO ACERCA DE "SILÊNCIOS"
«A intenção era apenas ler um, e acabei por ler todos, experimente é bem
possível que lhe aconteça o mesmo.
A sua poesia, a sua crítica revestida por um inconformismo constante.
Vem abalar alguns pilares que apesar de corroídos se vão mantendo, cheios de
pensos rápidos. Sem ninguém se aperceber ou apercebendo-se e não querendo
admitir, estes pilares se não tiverem uma reestruturação, um restauro afim de
preservar o que de bom ainda têm, acabarão por cair. Não gosto do cenário. Eles
deverão continuar de pé, não com o material degradado e desgastado pelo tempo e
curado com pensos rápidos, e sim com uma intervenção cirúrgica que lhe forneça
sangue novo. Desejo-lhe muitos leitores e Parabéns Filipe :) adorei e um bem
haja à Chiado Editora :)»
Leitora Paula Duarte
ENTREVISTA
Filipe Marinheiro nasceu em Coimbra, 30 de Julho de 1982.
É natural e reside em Aveiro.
Em Dezembro de 2013, publiquei o meu segundo livro, “Silêncios”, com a
Chiado Editora.
Livro que cria náusea e dor no leitor, ao reviver todas as experiências
de vida e de morte e o seu questionamento. “Silêncios” ondula entre o tom
alegre e o melancólico. Evoca uma linguagem de pureza e suavidade que abre
vórtices para o tangível e o intangível, entre passagens viscerais até atingir
percepção absoluta da beleza inimaginável. Dá ar e vida, sangue e respiração… e
essa respiração é dicotómica: tanto é ofegante como também abranda, dando pois
uma vida e um pulsar do coração a objectos e coisas invisíveis e inanimadas.
Ao percorrer essa beleza que é palpável e impalpável, rasa como que num
estilhaço, todos os elementos da natureza e todas as suas paisagens. Uma poesia
irrequieta, recalcada, vivenciada numa doçura triste que flutua entre o
oxigénio e o dióxido de carbono do dia e da noite.
Poesia em estado selvagem, rebelde. Cada poema que faço é uma busca
incessante do silêncio definitivo, alegoria para o local da paz. Procuro
rebentar com toda as canonicidades de alguma da literatura actual.
Para mim, só existe o acto de escrita enquanto escrita em si, como
pensamento livre. Tudo o resto é literatura… e o acto de leitura e
interpretação deve ser igualmente livre, cada pessoa deve tirar a sua própria
ilação, procurar os seus próprios silêncios. O mesmo poema poderá ser límpido
ou compacto, dependendo dos olhos de quem o lê.
A poesia é um jogo de estados de espírito… aliás, eu não sei o que é a
poesia, não sei defini-la. O acto de escrever poesia é simplesmente um jogo de
estados de espírito reflectidos num espelho metido para dentro e para fora. A
palavra e a linguagem são meros instrumentos. Dialogando diariamente com ela,
espero continuar sem saber o que é a poesia e muito menos o que é ser-se poeta!
Se pela força da vida algum dia souber defini-los, estarei louco ou morto.
Filipe Marinheiro
“Estou à disposição de muito poucas pessoas, detesto as horas profanas
quando estou com elas por estar.
É perturbante o meu desgaste ininterrupto apelando à figura diabólica
entre crueldade assombrosa e decifráveis homenagens presas aos sustos lúcidos
desses diálogos (perguntas-respostas, respostas-perguntas, suposições
enfadonhas, inamovíveis, ninguém sabe bem o que é, o que são, para que
servem?).
Por isso, é-me trágico, tampouco penoso. Gosto então dessa mestria,
quase utópica, de meditar dentro do permanente Silêncio, tocar-lhe na sua
essência com o sorriso dum arco-íris... expressar, apreciar, ouvir, tocar,
escutar, ser um anónimo para fora e dentro brotando qualquer coisa, chorar, ver
apenas... quero o Silêncio, o Silêncio, nada mais, nada menos. Amar, desamar,
viver na simplicidade, fazer o certo!”
in “Silêncios”, FM, Chiado editora, pág. 327
“Após chutar a dita estética frágil
descreio na cega literatura violentíssima
para mim inexistente
– destrutiva, desfigurada, falecida, mas precisa!
Nem tampouco me comovem as contradições
d’arte emaranhada em muitos contornos decalcados
– um recalcamento absurdo, improdutivo, um salto num vazio absorto...
renego-me profundamente... renego-me, renego-me! aller à Rimbaud... ...
…”
in “Silêncios”, FM, Chiado editora, pág. 199
Obrigado.
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