quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

VAMOS FALAR DISSO... MARTA TEIXEIRA PINTO

Desde a primeira hora, este espaço tem-se disponibilizado para dar voz a outros autores. Deste modo, é com muita honra que hoje vos trazemos um texto da escritora MARTA TEIXEIRA PINTO, em que a autora faz a reflexão sobre as suas experiências, um ano após o lançamento do seu livro PORTAS MÁGICAS


Um ano de «Portas Mágicas»

Antes de iniciar esta reflexão talvez seja importante esclarecer que quando assumo um compromisso levo-o até ao fim, esforço-me até ao limite e entrego-me a cem por cento. Para mim, no que se refere a compromissos, sejam eles grandes ou pequenos, não há meias-palavras nem meias-medidas. Ou é ou não é. Ou sim ou não. Posto isto, quando há cerca de um ano a Editora UNIVERSUS se interessou pelo meu livro, «Portas Mágicas», e eu tomei a decisão de avançar para a publicação, fi-lo com consciência, depois ter ponderado todas as implicações que isso teria. Quando decidi embarcar nesta aventura, não o fiz para poder acrescentar uma publicação ao meu CV, para poder apregoar que tinha um livro publicado, ou para deixar os trezentos exemplares correspondentes à sua edição a «apanhar pó» nas prateleiras do armazém da editora. Quando decidi embarcar nesta aventura, fi-lo porque queria que as pessoas lessem o meu livro, que vivessem a magia que eu vivi ao escrevê-lo e, sobretudo, que se sentissem inspiradas a abrir as suas próprias portas mágicas. Com este intuito, vesti roupas de viagem, abasteci-me de doses generosas de otimismo, coragem, determinação e persistência, coloquei a mochila às costas e preparei-me para cumprir esta demanda. Como Sara, a protagonista do meu livro, após um breve momento de hesitação, inspirei profundamente, dei o primeiro passo e fiz-me ao pó da estrada.

A primeira paragem que fiz foi no NEYA Lisboa Hotel, na tarde de 15 de dezembro de 2012, o dia do lançamento de «Portas Mágicas». Lembro-me de ter olhado para a sala então deserta e de ter comentado com Maria José Lacerda, «Penso que não temos cadeiras suficientes». Certamente com medo que eu ficasse desiludida e numa tentativa de me ajudar a ajustar as minhas expectativas, Maria José respondeu: «Acha, Marta? Eu gosto da sala assim. Está mais composta…». Continuo a pensar que não temos cadeiras suficientes, disse para comigo, mas anuí com a cabeça, disposta a deixar que o próprio tempo fizesse um argumento a meu favor. E assim foi. Passada meia hora, o gerente do NEYA e vários funcionários tiveram de acrescentar duas ou três filas de cadeiras à sala e de complementar as que já existiam e, mesmo assim, houve muitas pessoas que ficaram de pé. Ao olhar para os rostos que me fixavam, não pude deixar de me sentir maravilhada, pois ali, diante de mim, estavam pessoas de quase todos os meus percursos de vida. Familiares e amigos. Amigos de familiares e familiares de amigos. Amigos de infância e amigos recentes. Amigos de escola e amigos de faculdade. Amigos de perto e amigos de longe. Amigas do ginásio e amigos de trabalho. E, claro, todos os que eu ainda não conhecia e em relação aos quais criei imediatamente a expectativa de poderem vir a ser futuros amigos. Sentada a meu lado, a minha grande amiga Céu Seabra apresentou-me de forma terna e comovente. Cento e quinze exemplares vendidos. E eu num limbo, num espaço e num tempo alternativos. E eu a escrever autógrafos e a esquecer-me de colocar a data. E eu a rabiscar palavras sobejamente conhecidas como que pela primeira vez, com letras a mais ou a menos, num frenesim de principiante. Não podes esperar acertar em tudo à primeira, disse a minha voz interior e, com um encolher de ombros complacente, concordei. No final, uns miminhos doces para agradecer a presença de todos: um bolo alusivo ao livro criado pela minha grande amiga Susana Furtado, e miniaturas de coco e chocolate feitas pela minha mãe. Chegadas as 18h00, tivemos de passar a sessão de autógrafos, as conversas e os bolinhos para a receção do hotel, e já passava das 20h00 quando saí para rua e aspirei o ar da noite. Cumprida esta primeira missão, sorri e retomei a minha caminhada.

Segunda paragem: Livraria Adrião em Mangualde, no dia 23 de março de 2013. Espaço acolhedor, com cem lugares sentados, criado especialmente para receber autores e convidados em lançamentos ou apresentações de livros. Nesse dia, as montras e as prateleiras estavam adornadas com cartazes e exemplares de «Portas Mágicas», apenas uma das muitas amabilidades do Sr. Henrique Silva, da esposa, dos filhos e dos restantes funcionários. Menos gente, mas sala cheia. Muitos familiares e amigos da terra, e os apoiantes de sempre (os meus pais, a minha sobrinha, os meus sogros, a minha amiga Susana, o meu marido e a minha filha). O meu marido, António Ferreira, apresentou-me com a voz embargada por um misto de orgulho e felicidade pelo facto de estarmos a fazer a primeira apresentação do livro na sua cidade. Seguiram-se perguntas interessantes e um debate animado. Contou-se ainda com a presença do Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Mangualde, João Lopes, que dirigiu algumas palavras à assistência, e de Artur Santos do jornal «O Zurara» que, na edição de abril de 2013, publicou uma reportagem sobre o evento. Vinte e sete exemplares vendidos e, desta vez, autógrafos com data, palavras bem escritas e texto coerente. No final, a hospitalidade da Beira Alta patente numa mesa posta com as delícias da terra, na qual não podiam faltar os tradicionais pastéis de feijão (ou «feijões»). Em lugar de destaque, mais um bolo alusivo ao livro, da autoria de Susana Furtado. Depois, festa em casa dos meus sogros para quem quis acompanhar-nos e partilhar mais iguarias, gargalhadas e conversas até às primeiras horas do dia seguinte. Preparada para seguir viagem, coloquei novamente a mochila às costas e parti.

Terceira paragem: Escola Secundária da Lourinhã, a 23 abril de 2013, Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor. As receção e apresentação calorosas foram feitas pelas minhas grandes amigas Brigitte Carvalho e Filipa Silva, que na altura eram professoras estagiárias de Inglês e de Espanhol nesta escola. Auditório (literalmente!) cheio de jovens, alguns dos quais tiveram a coragem de colocar questões e promover um debate. Seguiu-se a atribuição de prémios aos vencedores do concurso de escrita «Portas Mágicas», para o qual eu selecionei dois parágrafos do livro que os alunos tiveram de completar com as suas próprias criações (em inglês ou em espanhol). Muito interessante. Sete exemplares vendidos a professoras e à biblioteca da escola (um empate com Daniel Sampaio, assim me disseram). Autógrafos com datas, palavras bem escritas e texto coerente. Sou quase uma profissional do autógrafo!, pensei, enquanto retomava a minha viagem.

Quarta paragem: Livraria CWorld em Pinhal Novo, no dia 11 de maio de 2013. Vizinhos e amigos de Pinhal Novo e arredores, e a claque do costume (os meus pais, a minha amiga Júlia, o meu marido e a minha filha). Cadeiras dispostas para receber os convidados, cartazes de «Portas Mágicas» pendurados do teto e colados na parede, marcadores de livros «Portas Mágicas» em cima da mesa elegantemente adornada com tons e texturas alusivas ao livro, e montra de livros da Editora UNIVERSUS a separar o espaço de livraria do centro de cópias, criando assim um ambiente intimista e acolhedor. Foram estas algumas das gentilezas facultadas pelo Sr. Correia e pela D. Paula, os donos deste vasto estabelecimento. Sentada a meu lado, a minha grande amiga Rita Freitas apresentou-me com o seu «ABC da Marta Teixeira Pinto» que a todos fez rir. Contou-se ainda com a presença de uma jornalista do «Jornal do Pinhal Novo» que, no dia 14 de maio de 2013, publicou uma pequena reportagem publicitária sobre o evento. Nove exemplares vendidos. Autógrafos fluentes. Já domino isto, disse para comigo e parti.

Quinta paragem: Galeria Municipal de Mourão, no dia 24 de maio de 2013, no âmbito da Feira Popular e Cultural de Maio da vila que inspirou a do meu livro. Sem dúvida o evento mais difícil deste primeiro ano de demanda. Porquê? Foi em estado de quase-pânico que, na manhã da apresentação, me vi sem uma representante da editora e, pior ainda, sem livros para levar comigo. Muito mais tarde, já a caminho de Mourão e com livros na mala, surgiu um problema com o carro e fui obrigada a fazer uma paragem para resolvê-lo. Não há palavras para descrever o horror e a mortificação que senti quando, à medida que as preciosas areias do tempo se escoavam, me apercebi que chegaria com um atraso (ainda que ligeiro) à apresentação do meu próprio livro. Há dias assim, disse para comigo. De nada me valia desperdiçar energia a lamentar-me pelas circunstâncias que me tinham colocado naquela situação. O que tinha de fazer era avisar o organizador do evento, o então Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Mourão, Manuel Carrilho, e os familiares e amigos que me esperavam. Quando peguei no telemóvel, as minhas mãos tremiam ligeiramente e senti a ausência do meu marido e da minha filha como uma ferida aberta no peito. Necessitei de quase toda a coragem que trazia na bagagem para admitir um atraso que era completamente alheio à minha vontade e aos meus esforços e para pedir desculpa por uma sequência de acontecimentos da qual eu não tinha a menor culpa, mas fi-lo. Foi graças ao apoio dos meus familiares e amigos (os que me acompanharam na viagem e os que me esperavam em Mourão) e às inexcedíveis compreensão e simpatia de todos os envolvidos na organização do evento e da assistência em geral que, no final desse dia, pude dizer, «tudo está bem quando acaba bem». E acabou realmente bem! «Portas Mágicas» teve a oportunidade de partilhar o espaço da Galeria Municipal com a Primeira Bienal do Mediterrâneo; a minha tia, Rosa Malhado, fez uma apresentação emocionante (e completamente parcial!) da minha pessoa; e a Câmara Municipal organizou e serviu um Porto de Honra acompanhado pelas doces iguarias da terra que desempenhou um papel tão importante na minha infância, entre as quais estava a minha preferida, o chamado «bolo podre» (uma delícia de mel, azeite e canela que de podre só tem o nome). Onze exemplares vendidos. Muitas fotos tiradas com pessoas simpáticas, entre as quais o então Presidente da Câmara Municipal de Mourão, José Lopes, e a atual Presidente, Maria Clara Safara. Seguiram-se longas conversas com quem escolheu ficar até ao fecho, uma passagem fugaz pela casa que inspirou a da avó Helena de «Portas Mágicas», um jantar tardio com família e amigos num restaurante típico, e uma viagem de regresso iluminada pelo luar das primeiras horas da madrugada. Mais uma missão cumprida. Ajustando as alças da mochila, regressei ao trilho.

Sexta paragem: entrega de um exemplar de «Portas Mágicas», oferecido pela Editora UNIVERSUS, ao Presidente da Câmara Municipal de Mangualde, João Azevedo, no dia 27 de agosto de 2013. Acompanhada pelo meu marido, participei numa muito agradável conversa a três, numa pequena e acolhedora sala do elegante edifício da Câmara Municipal. Mais um livro, mais um autógrafo, mais fotografias.

Nova paragem, novo desafio. No final do mês de outubro de 2013, recebi um telefonema de Maria José Lacerda que me disse que a primeira edição do livro estava esgotada e que seria preciso fazer-se uma segunda edição para satisfazer os pedidos pendentes (Porto Editora, Leya, agrupamento de escolas de Seia, entre outros). «Parabéns, Marta! O seu é o primeiro livro da editora a fazer uma segunda edição», congratulou-me Susana Maurício, pelo telefone, antes de discutirmos as várias sugestões para a nova capa. Depois de duas semanas de trabalho intenso, realizado em parceria com Hugo Souto e Susana Maurício, o miolo e a capa ficaram prontos e «Portas Mágicas» encontra-se neste momento na gráfica, a aguardar a sua vez para ser reimpresso.

No dia 15 de dezembro de 2013, volvido um ano desde o começo desta minha grande aventura e cansada da longa caminhada, parei na beira do trilho, sentei-me sobre o tronco de uma árvore caída, pousei a mochila quase vazia e refleti. Olhei para trás, para os medos e para as dúvidas enfrentados e vencidos, para as aprendizagens que fiz e para as pessoas que conheci, para as oportunidades que aproveitei e para as que perdi, e sorri. Pelo caminho tinham ficado trezentos exemplares de «Portas Mágicas», a totalidade da primeira edição, ao cuidado de pessoas que eu esperava poderem prestar-lhe a maior homenagem que se pode fazer a um livro, que é lê-lo. Pelo caminho tinham ficado muitas palavras de encorajamento e muitas garantias de que o livro que eu escrevera há quase vinte anos continuava a abrir portas mágicas a quem o lia. O balanço era muito positivo e, se eu não fosse uma pessoa incorrigivelmente otimista, diria até que era surpreendente. Assim sendo, não podia dizer que estivesse surpreendida, apenas maravilhada e desejosa de retomar a minha viagem. Olhei para o trilho que me faltava percorrer e que, simultaneamente sombrio e luminoso, encerrava a promessa de mais uma grande aventura. Inspirei o ar doce e fresco, levantei-me, sacudi o pó da estrada e reabasteci-me de doses generosas de otimismo, coragem, determinação e persistência. O caminho é para a frente, pensei. E dei o primeiro passo.


5 comentários:

  1. Querida grande Autora e Amiga,
    Foi com lágrimas nos olhos que li este seu texto "Um ano de Portas Mágicas".
    Palavra a palavra, recordei todos os momentos em que estive junto a si... e lamentei, como o fiz na altura, todos os que não me foi possível estar.
    Palavra a palavra, recordo o espírito empreendedor da Marta, e nunca duvidei que chegasse a 2ª Edição, assim como nunca duvidei nem duvido, conforme cheguei a referir, que "Portas Mágicas"... num outro País seria já um best seller.
    Palavra a palavra, que li, tenho essa convicção de que vai ser mesmo.
    Palavra a palavra, eu Susana Maurício que dei o meu pequeno contributo, ao "vestir" as palavras da Marta Teixeira, de forma completamente isenta, recomendo vivamente a leitura do livro.
    Palavra a palavra, acrescento agora as minhas:- Com este pequeno contributo para a 2ª Edição, que eu e o Hugo lhe demos, tenho a certeza de que esta, mais rapidamente chegará ao fim. É mais do que merecido.
    Palavra a palavra, chega o tempo em que recordo todo o processo até ao lançamento do livro... incluíndo as nossas trocas de impressões sobre a capa. A Marta sabia muito bem a capa que queria... e como se saíu bem nesse seu saber.
    É sempre com aquele orgulho saudável que pego no seu livro e olho para ele.
    Palavra a palavra, acrescento uma mais... temos todo o prazer, eu, Hugo e Ricardo, em oferecer-lhe o livro com o selo de 2ª edição no formato 3D. Um pequeno mimo de Amigos.
    PARABÉNS Marta... extensivos ao António sempre atento à divulgação e partilhas que fiz, e sempre a acompanhar tudo o que se passava. Parabéns igualmente a toda a família.
    Finalizo expressando o meu desejo, de ver editados mais livros. O mérito é todo seu Marta.
    Manu... Obrigada por mais este excelente artigo em que deste a oportunidade de uma Autora do gabarito da Marta, poder fazer este balanço de um ano de vida do seu livro.
    Com emoção, com Amizade...
    Beijinhos,
    Susana Maurício

    PS:- Desculpem alguma gralha. Não revi (nada de anormal em mim), e foi escrito com palavras vindas do coração.

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    1. Susana! Acho que não é novidade para ninguém que este blogue sempre teve, tem e terá as portas abertas para os textos que outros autores queiram ver aqui expostos. Este é apenas um! Para além disso quero reafirmar que o PORTAS MÁGICAS foi um livro que me surpreendeu pela positiva e teve, dentro das minhas possibilidades, o máximo destaque nos meus espaços da internet. Reafirmo também que este blogue continuará a estar de portas abertas para se falar de tudo o que está relacionado com a literatura lusófona.
      Obrigado por mais uma visita.

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  2. Não é mesmo novidade Emanuel!!!
    Ler o texto da Marta, trouxe a emoção à flor da pele.
    Pelo excelente livro, pelo excelente realcionamento que sempre tivemos e temos.
    Obrigada eu... pelo teu blog.

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  3. Querida Susana! Obrigada pela suas sentidas palavras e, mais uma vez, pelas vossas (sua, do Hugo e do Ricardo) inabaláveis disponibilidade e atenção. Trabalhar convosco foi um gosto!
    Emanuel, obrigada pela oportunidade de partilhar esta minha reflexão.
    Beijinhos :-)

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    1. Marta! Acho que esta partilha de experiências e sentires é importante para entendimento e esclarecimento dos autores. Grato estou eu por partilhares esta reflexão aqui. As portas estão abertas sempre que entenderes.
      Beijo.

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