Ao longo da história da literatura portuguesa, foram
muitos os autores que ganharam, por mérito próprio, o direito a serem
apelidados de referências literárias. Nomes como Fernando Pessoa, Aquilino
Ribeiro, Camilo Castelo Branco, Miguel Torga, Florbela Espanca, Lídia Jorge,
José Saramago, Lobo Antunes, para referir apenas alguns, de uma lista
interminável, são bons exemplos de autores referência, cada um no seu género e
estilo.
Se por um lado temos aqueles autores que marcaram não
só a sua época mas também as que se seguiram, não é menos verdade que, em
paralelo, sempre existiram outros com menos destaque ou visibilidade mas com
grande influência nos seus contemporâneos.
A generalidade das pessoas sabe que o grande Fernando
Pessoa tinha uma forte admiração por Mário de Sá Carneiro, com quem se
correspondeu frequentemente, pedindo-lhe, não poucas vezes, opiniões sobre os
seus textos. O que a maioria desconhece é que existia um outro autor, quase
ignorado nos nossos dias, pelo qual o poeta dos heterónimos nutria um fascínio
ainda maior, tendo-o considerado um dos maiores nomes da poesia lusófona de
sempre. Opinião partilhada por Teixeira de Pascoes. Ambos se referiam a
Domingos Monteiro.
Convém dizer que este autor conseguiu a proeza de ser
uma referência, para dois dos maiores vultos da poesia portuguesa, com apenas
dois livros editados, o mesmo é dizer, com 18 anos de idade. Só trinta e dois
anos depois da edição do seu segundo livro é que editou o terceiro, fazendo
mais uma pausa de vinte cinco anos antes do quarto. Talvez por força destes
hiatos, o seu nome é pouco conhecido e a importância da sua obra na história da
poesia nacional seja vista como quase nula.
No entanto, e voltando um pouco atrás, essa escassez
produtiva, pelo menos no que à edição diz respeito, não impediu que fosse para
os seus contemporâneos um nome de referência.
Serve este resumido episódio da história para vos
dizer que, nem sempre, são os grandes nomes, os mais consagrados, aqueles que
mais influenciam uma época. E o exemplo que dei é apenas um dos muitos que
poderia dar. Em vez de Domingos Monteiro, eu poderia ter falado de Tomaz Kim ou
Mário Saa, só para mencionar mais dois nomes de poetas quase desconhecidos da
maioria mas com grande impacto nos processos criativos de outros, cujos nomes
são mais familiares nos dias de hoje, casos de Jorge Sena e Ruy Belo.
Puxando um pouco a brasa à minha sardinha, permitam-me
que vos transcreva uma passagem do prefácio que o poeta Nuno Guimarães escreveu
para o meu livro POETAS QUE SOU, que creio servir na perfeição para ilustrar
esta minha tese:
“...
Quantas e quantas vezes, são os nomes menos conhecidos que despoletam no poeta
uma vontade de escrever. Quantas e quantas vezes, meia dúzia de palavras
navegando entre mares encapelados de versos, trazem o sonho e levam o poeta a
rabiscar.”
Acrescentarei apenas a minha forte convicção que, em
todas as épocas e em todos os estilos literários, existem os grandes nomes que
por mérito se transformam em referências mas todos eles beberam de outras
fontes menos mediáticas ou visivéis.
MANU DIXIT
Emanuel, ao ler o teu artigo fiquei a refletir em tudo o que escreveste e até de uma forma mais abrangente. Inteiramente de acordo com o que afirmaste relativamente aos autores de referência, a minha reflexão caminhou para as pessoas que são referência para nós, enquanto seres humanos em contínuo processo de crescimento.
ResponderEliminarO homem vai crescendo como pessoa e vai formando a sua personalidade com um pouco de cada uma das personalidades dos que o rodeiam.
Vivemos em sociedade e, por muito que queiramos ser individuo, a nossa individualidade está de certa maneira condicionada pela personalidade dos que nos rodeiam.
Isto é, eu penso por mim própria mas os meus atos são influenciados, ainda que, muitas vezes, inconscientemente, por todos aqueles com quem contato e contatei ao longo da minha vida.
Antigamente, dizia-se que “cada homem é avô de si mesmo” para exprimir que a herança cultural de cada um lhe permitia resolver os problemas do seu tempo com as ferramentas e os critérios das gerações que o precederam.
Hoje, já não se afirma isso com a mesma convição mas é um facto que o que a vida nos oferece de mais fascinante é a aprendizagem.
O Mundo está repleto de pessoas que têm as verdades todas definidas. De pessoas que não abriram o seu espirito à sede de aprender.
No caso especifico que focas, os autores de referência, estas considerações encaixam na perfeição, na minha maneira de ver as coisas. Se é ao longo da nossa vida que nos vamos tornando o que somos no presente e o próprio presente nos irá influenciar para o futuro, como poetas/escritores não podemos ter a ousadia de nos considerarmos únicos porque tudo o que lemos nos influencia, consciente ou inconscientemente.
E aqui não importa se as fontes de influência são mediáticas ou não, são apenas fontes…
Obrigada por esta oportunidade de reflexão que me proporcionaste.
Beijinho.
Maria Eugénia! Por acaso, ao escrever este artigo, lembrei-me de várias pessoas que ao longo da vida me marcaram e fiz exactamente a mesma reflexão. Cada um de nós é uma individualidade criada e construída sob influências várias, mesmo que inconscientemente.
EliminarE essa realidade, por muito que alguns a neguem, também existe no universo da escrita. Mesmo que cada um de nós crie o seu próprio estilo, ele contém, inevitavelmente, influências exteriores.
Beijo.
Sem dúvida, Emanuel, e eu diria que é uma infantilidade negar essa influência externa quando ela, tantas vezes, é facilmente identificável e/ou perfeitamente compreensível.
ResponderEliminarÉ negar o óbvio... afinal cada um de nós é único mas fazemos parte de um todo, não é verdade?
:-)
Ignorando, por momentos, a minha laicidade, apenas acrescento: até Adão e Eva foram influenciados.
EliminarOlá Emanuel. Tenho estado em falta com o que prometi e normalmente quando prometo cumpro. No entanto queria criar um blogue aqui na blogger para poder usufruir da sua companhia e poder mais facilmente adicioná-lo e partilhar das coisas que vai publicando e se me der oportunidade de interagir comentando e seguindo e cá estou. Sou a Fátima Soares (Verniz Negro) do Sapo e que agora já posso ter o meu amigo ao pé. Mais perto porque no coração está sempre.Adorei o artigo está muito bom e como disse vou adicioná-lo para seguir e vir ler com mais calma todo o blogue e pronunciar-me sobre o que me vai fazendo sentir, Sei que a qualidade é uma certeza e a sua amizade é-me muito grata. Por isso quem tem a ganhar sou eu :) Beijinho e tudo a correr muito bem. Foi óptimo aquele bocadinho mesmo pouco que falámos. Um abraço e muito sucesso do fundo do coração lho desejo!!! Boa semana!
ResponderEliminarOlá Fátima! Bem-vinda a este meu espaço que é de todos os que o visitam. Este blogue é a versão blogger do outro que eu tinha no sapo, mas com participações de outros autores. Ainda tem pouca visibilidade mas aos poucos, com a ajuda dos amigos, vai chegando a mais gente.
EliminarEm termos gerais, este é um espaço que procura gerar debate em torno da literatura e, verdade seja dita, já tem criado algumas polémicas.
Espero que os artigos até hoje publicados sejam pelo menos motivo de reflexão.
Beijo grande.
Bom dia, com muita chuva, tudo empapado!
ResponderEliminarMas olhe, isso que o senhor diz neste poste é básico! Óbvio! Todos "bebem" de alguém. Essa análise é muito superficial. Há tratados e mais tratados - os de literatura, os aplicados somente à poesia, os de retórica e influências, os analíticos, etc, etc, etc - tudo eles objectos de estudo nas faculdades. Qualquer estudante de doutoramento sabe dessa "coisa" corriqueira que são as influências. Isso é logo no 1º ano...
Tem de escrever assuntos mais consistentes quando não, o seu blogue fica restrito a uma camada que não admite qualquer "discussão" apenas porque não sabe. Engolem e batem palmas. Tem de alargar mais o blogue, está bem? Mais conhecimento, mais profundidade, está bem?
Ou é assim mesmo?
Continuação de saúde e votos de um melhor tempo para breve!
BRSE
O meu 9º ano não dá para mais.
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