sexta-feira, 6 de abril de 2018

EU FALO DE... REVISÃO DE TEXTOS



Um dos principais problemas que encontramos, com facilidade, nos livros, é a deficiente revisão dos textos (ou a falta dela). Há sempre um acento omisso; uma vírgula sem propósito; espaço indevido antes de reticências, ou ausência de espaço entre as reticências e a continuação do texto; maiúsculas após pontuação final; erros de concordância; palavras mal escritas e outras mal empregues; gralhas, etc.

Entre os serviços que a In-Finita oferece, tanto a autores como a editoras, está precisamente a revisão de textos.

Este trabalho exige, não só um bom conhecimento linguístico, mas também uma enorme variedade de ferramentas: prontuários, dicionários, manuais de escrita, entre outros. No entanto, e tendo em conta a diversidade linguística existente no universo lusófono, somos confrontados com especificidades locais e culturais que nenhum manual contém. Nessa hora, é imprescindível a ajuda dos autores na descodificação correcta das dúvidas que surgem. E é sobre este aspecto que quero incidir o foco do texto que agora escrevo.

Uma das nossas primeiras preocupações, quando nos enviam um texto para revermos, é fazer uma lista das situações mais flagrantes e remetê-la para explicação dos autores. E, na grande maioria das vezes, os erros encontrados são tão básicos que não conseguimos compreender a relutância dos autores em assumir os erros, optando por dar explicações absurdas, e acima de tudo incoerentes, reveladoras do quão escasso é o conhecimento da língua portuguesa. Darei dois exemplos recorrentes:

1º - Pontuação: Por norma, quando confrontados com a ausência, ou uso abusivo, de pontuação, os autores explicam esse facto como sendo parte integrante do seu próprio estilo, e lançam-me à cara sempre o mesmo nome: José Saramago. Ao fazê-lo, com o claro intuito de revelarem erudição e conhecimento, acabam por revelar-me o quão mal conhecem a sua obra (creio que a maioria nunca leu um livro sequer) porquanto só em duas ocasiões é que este autor foi omisso no uso de pontuação, e fê-lo em obras menores. Fico espantado por, nesta altura do “campeonato”, as pessoas continuarem a falar do que não sabem e, pior, a falar do que não sabem para explicar que não sabem pontuar textos.

2º - Erros ortográficos: Um dos argumentos mais frequentes para justificar um erro ortográfico é dizerem que aos autores é permitido (e até exigido) que usem novos vocábulos e inventem palavras. Quando ouço isto eriçam-se-me os pelos da barba. Uma coisa é acrescentar vocábulos, outra bem distinta é mutilar os existentes.

Será que as pessoas não entendem que essa “permissão”, outorgada aos autores, exige o respeito pela morfologia das palavras? As palavras não nascem por pura invenção; todas têm de conter dentro uma explicação histórica, credível e exacta da sua morfologia. A língua portuguesa não pode ser tratada como a linguagem dos “P’s”.

Mais do que inventar vocábulos e/ou estilos diferenciados, aos autores é exigido um permanente estado de alerta para defesa e bom uso daquilo que a nossa língua já possui. Antes de inventar ou querer diferenciar-se, o autor tem de provar que domina na perfeição todos os aspectos do seu idioma.

Os autores devem marcar a diferença pela excelência dos seus trabalhos, seja pela criatividade ou pelo uso apurado e correcto da língua. Primeiro façam o vosso caminho pontuado pela ausência de erros (e, já agora, alguma modéstia) e quando a obra justificar consagração, então aí, inventem o que quiserem pois estarão habilitados para o fazerem.

Tal como fez Saramago.

MANU DIXIT

2 comentários:

  1. Excelente texto. Muito obrigada pela partilha.
    Antes de quebrar as regras é preciso sabê-las e exercê-las com mestria.

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