O banho limpa das poeiras acumuladas, mas o pesado
sarro das horas intermináveis continua grudado na pele e emperra os sentidos
que pedem clemência. Nem o sabão consegue descontaminar o corpo dorido. Os
braços, com duas tonalidades de bronze porque o sol só queima onde não há
manga, contrariam a gravidade e as mãos, com a mistura de escaras antigas e
recentes, já não têm agilidade para se transformarem em punhos de revolta. As
pernas rangem pela montanha de esforço despendido e os pés, coitados, gritam misericórdia
por terem suportado tudo sozinhos.
Mas a mente, apesar de tão ou mais fatigada que todos os membros juntos, é quem manda e pede mais umas passadas de sacrifício para se ir comprar qualquer coisa para restabelecer as forças e, assim, evitar pensar nos novos pelos brancos que avistou no rosto cansado e que o espelho denunciou.
EMANUEL LOMELINO
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