Mestre Anton
Escrever dentro de parâmetros minimalistas torna-se, cada vez mais, uma tarefa hercúlea, tantos são os detalhes a que devemos atentar.
No entanto, o problema maior para o criador é ajustar esse minimalismo entre duas balizas: a primeira resultante daquilo que pretende transmitir; a segunda proveniente daquilo que pode ser determinado pela percepção dos leitores.
Ao libertar as letras de excessos descritivos como quem dispensa o supérfluo, o criador perde o controlo sobre as possibilidades interpretativas dos leitores e coloca-se a jeito para análises diametralmente opostas ao seu propósito inicial.
Mesmo aceitando que a diversidade interpretativa de um texto exponencia-o, não deixa de ser verdade que a múltipla significação, ou pluralidade de sentidos, transforma os textos naquilo que nunca foram, longe dos desígnios base da sua criação e intensões.
Nos dias correntes, mais do que em épocas distantes, esta questão coloca em risco a criação e, acima de tudo, o próprio criador, uma vez que fica sujeito a ser entendido pela interpretação que fazem das suas palavras e a ser etiquetado de acordo com as mesmas interpretações.
Hoje, quem lê, já não o faz com espírito lúdico ou de aprendizagem. Simplesmente está à procura de um “deslize” vocabular que, retirado do contexto, possa colocar o criador no centro de discussões éticas, em polémicas ideológicas e/ou filosóficas, porque o mundo transformou-se num espaço bipolarizado e são as controvérsias que o fazem girar.
Na escrita, minimizar pode, ao contrário do que seria lógico e natural, maximizar oposicionismos.
Simplesmente
Emanuel Lomelino
Sem comentários:
Enviar um comentário
Toca a falar disso