quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Epístolas sem retorno 47 - Emanuel Lomelino

Axel Munthe
Imagem retirada da internet

Prezado Axel

Por mais obscura que seja a realidade, o papel do cronista consiste em relatar os factos, tal qual se apresentam, sem ocultar defeitos, erros ou imperfeições. Embelezar acontecimentos e circunstâncias é abraçar a ilusão; o engano; o logro.

Aqueles que decidem cobrir a face do real com a multifuncionalidade das palavras mais não são do que fantasistas; criadores de ficção; vendedores de banha da cobra.

Um cronista, na verdadeira ascensão do termo, tem de ser imune ao desejo que emprestar encanto ao que deve ser entendido, e visto, na plenitude da sua nudez; na totalidade da sua hediondez, por inteiro na sua crueza.

É incoerente querer pintar as palavras de cores quentes e dar-lhes brilho quando, elas, nascem das sombras mais escuras e gélidas. Cada coisa é reflexo do seu entorno e, a bem da verdade, não existe maior falácia no universo das letras do que a maquilhagem.


Empiricamente

Emanuel Lomelino

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