Digníssima Agatha,
Neste mundo cibernético ou, como ousa dizer-se comummente, neste mundo digital, passado que está o período de novidade, constata-se que, entre benefícios e prejuízos, o maior impacto reflete-se na fusão entre a realidade e o virtual.
Por mais que ouçamos vozes da razão, cheias de legítimas intenções e, sobretudo, boas pretensões, essas não passam de murmúrios sussurrados porque, na prática, ninguém quer ser visto, neste novo paradigma de anonimato selvagem, como cordeiro.
Cultivou-se um género de necessidade básica de pertencer a uma horda opinativa, seja qual for a opinião defendida – que não defensável –, como de pão para a boca, porque a fome de visibilidade é insaciável.
O que ninguém ou muito poucos percebem é que o ciberespaço, tal como se apresenta e é usado, ao contrário da obra de Machado de Assis, é coisa que não edifica mas destrói.
Agatha, dissertar sobre este assunto é um exercício fastidioso por natureza, contudo, imagino como seria a sua vida se a internet coexistisse com a sua obra. Só não sei quantos energúmenos, ao ler trechos dos seus livros, apresentariam queixas formais às autoridades por suspeitarem que, por tanto escrever de roubos, assaltos e mortes, estaria envolvida no crime organizado. Tampouco sei quantos encheriam as suas caixas de comentários e mensagens com vernáculo ofensivo, apenas porque a horda funciona desse jeito.
Curioso
Emanuel Lomelino
Sem comentários:
Enviar um comentário
Toca a falar disso