Caro Desidério,
Queixais-vos do quão ridículo era, nesse vosso tempo medieval, a chusma de “eruditos de pacotilha” que contratavam elogios e discursos abonatórios, embriagados que estavam com a reduzida e elitista fama prestada aos literatos.
Nessa altura, e porque não lhe eram conhecidos poderes de profetismo, jamais lhe poderia passar pela cabeça que, volvidos uns quantos séculos, os pseudoliteratos (maioritariamente autonomeados) aumentariam consideravelmente, sendo que o lado abjeto dessa proliferação encontra-se, precisamente, no apetite que a generalidade dos humanos sente pelo mediatismo, pela lisonja, pelo elogio, enfim, pelas luzes da ribalta.
Não me é difícil imaginá-lo a contorcer-se de sofrimento ao ver, in loco, as loucas atrocidades que se cometem, hoje, no universo das letras.
Contratar
“parladores” é coisa de meninos de coro - agora contratam-se plateias, aplausos,
bajulações, e tudo é feito de forma despreocupada porque, por mais notável que
possa parecer, a notoriedade já não é contestada – apenas invejada.
Em resumo, aquilo que designou como sendo falta de ética moral transformou-se, através dos séculos, em completa ausência de valores. Tanto a ética, como a moral, são apenas vocábulos e, mesmo correndo o risco de estar a cair em erro de avaliação, creio que não deve estar longe o tempo em que ambas palavras cairão em desuso, tal qual já aconteceu com os seus significados.
Sem dotes intuitivos
Emanuel Lomelino
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