O pasteleiro-florista
Zacarias era um pasteleiro que, nos intervalos do seu ofício, passava o tempo a plantar flores. Por conta dessa actividade extracurricular, ele passou a ter a visibilidade que nunca havia alcançado através da profissão.
Com o tempo, o seu nome passou a ser reconhecido no mundo da floricultura e ninguém estranhou quando ele passou a fazer arranjos florais para uma florista recém-fundada.
Entre altos e baixos, as coisas foram funcionando e, mesmo nos momentos de menor demanda, Zacarias teve sempre o suporte da florista. Ora plantava flores por sua conta, ora fazia bouquets para a florista.
Só que um dia, por achar-se o suprassumo da floricultura e não ver o maior dos seus arranjos (que não o melhor – bem pelo contrário) exposto no melhor local do jardim, ele decidiu apontar o dedo à florista pela falta de exposição.
O pior do seu amuo nem foi a contestação, mas sim a forma dissimulada como decidiu chamar sobre si os holofotes do universo floral, contando a sua versão ofendida da história e pintando a florista como sendo um demónio de desonestidade.
Nesse momento de raiva ressabiada, esqueceu-se de dizer aos seus acólitos apoiantes que, ao contrário daquilo que as pessoas pensavam, nenhum dos serviços prestados à florista foram feitos por altruísmo. Todos os arranjos que fez haviam-lhe sido pagos à razão de uma percentagem por cada flor vendida.
Definitivamente, Zacarias pertence àquele grupo de pessoas que, sucumbindo ao vício da vaidade, faz discursos inflamados, para inglês ver, e acaba por esquecer os seus telhados de vidro e perde a noção da realidade.
EMANUEL LOMELINO
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