Lomelinices
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À medida que me embrenho na longitude da idade, reforço a certeza de ter sido integrado num tempo que jamais deveria pertencer-me.
Esta percepção – algo entre ingenuidade e sentimento de negação – fez-me acreditar, na juventude, que o meu carácter era inocente - por berço, natureza e fado.
Com os anos, esta leitura revelou-se-me, surpreendentemente sem espanto, na plenitude da sua erroneidade, permitindo-me identificar, como nunca antes vira, os pontos de união entre episódios isolados e o meu desenquadramento temporal.
Na ausência de via alternativa, procurei adaptar a minha essência à realidade, como um trapezista, em busca de equilíbrio entre dois mundos.
Esse processo de calibragem permitiu-me entender as motivações para a existência e aplicabilidade de inúmeros conceitos, que dariam para escrever mil ensaios e teses de comportamento humano. Quem sabe, um dia os farei.
Por agora limito-me a confirmar que vivo deslocado no tempo, num mundo que não é o meu e com o qual não me identifico.
EMANUEL LOMELINO
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