Lomelinices
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Lancei, ao vento, um papagaio de papel, com o formato de diamante e frases que voam alto. Daquelas que nos levam a acreditar que as palavras fazem eco nos corações, mesmo os mais empedernidos.
A brisa acariciou cada letra, como quem beija o mais sagrado dos cálices divinos, e o ar ficou prenhe de plumas celestiais a oscilar como flocos de neve.
O céu chorou sete lágrimas pingentes, uma por cada cor do arco-íris que, sorridente, agraciou o mundo com a sua benevolência graciosa.
Duas cotovias ladearam o papagaio de papel, qual escolta imperial, numa sincronia notável. Ora para a esquerda, ora para a direita, ora planando, ora subindo, ora descendo, num voo perfeito de tão belo.
Rompi o fio, como quem corta o cordão umbilical, e deixei o papagaio de papel ganhar vida e escrever, nos céus, o seu próprio destino.
Ainda hoje escuto, nos murmúrios das aragens vespertinas, a sinfonia das palavras que escrevi no papagaio de papel. E sinto-me tão livre quanto ele. Só não tenho as cotovias ao meu lado.
EMANUEL LOMELINO
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