segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Contos que nada contam 10 (O frustrado feliz) - Emanuel Lomelino

O frustrado feliz

Franklim nasceu feliz, teve uma infância pobre, mas feliz, foi um adolescente tímido, mas feliz, até que chegou à idade adulta… e continuou a ser feliz.

Toda a gente gostava de Franklim, do seu jeito simples de ser, mas com personalidade, do seu humor subtil e inteligente, da sua conduta irrepreensível e firmeza de carácter.

Contudo, muitos reparavam que, apesar de irradiar felicidade por todos os poros, Franklim tinha duas rugas de tristeza no rosto.

Um dia, em conversa mais íntima com um amigo de infância, Franklim confessou que, mesmo sentindo-se um homem feliz, andava um pouco frustrado porque não estava profissionalmente satisfeito – não gostava do trabalho que tinha. O amigo aconselhou-o a ir em busca daquilo que o pudesse realizar nesse quesito. E ele assim fez.

No início foi como estivesse a viver em constante êxtase, no entanto, com o passar do tempo, o rosto de Franklim ganhou mais rugas de tristeza, e toda a gente reparou.

Franklim passou a estar cada vez mais distante do mundo, deixou de demonstrar interesse nas conversas, as suas piadas perderam a graça, as conversas deixaram de ser interessantes. Já não era o mesmo homem.

O tal amigo mais íntimo quis saber o que se passava e Franklim admitiu que, apesar de estar mais envolvido com um trabalho apaixonante, não conseguia sentir prazer ao realizá-lo.

Desta vez, o amigo não deu conselho algum, apenas demonstrou preocupação com o ânimo de Franklim e expressou o desejo de voltar a ver a felicidade estampada no rosto dele.

Franklim decidiu dar dois passos atrás para se reencontrar. Na sua cabeça passou a ser preferível trabalhar em algo que se despreza, mas ser feliz, do que ter um trabalho que o realize, mas o deixe miserável.

Se a vida fosse uma novela tudo acabaria por se resolver e as coisas conspirariam em seu favor. No entanto, como a vida não é ficção pós telejornal, Franklim faz o trabalho que mais odeia, está mais longe de se encontrar e voltar a ser quem foi um dia. E as rugas são cada vez mais.

EMANUEL LOMELINO

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