Diário do absurdo e aleatório
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No horizonte, duas áleas de fogo-fátuo iluminam, com as suas línguas afiadas de fome, as gordas passadeiras da presunção.
Pernas torneadas, por óleos, lâminas depiladoras e solário, avançam na vaidade dos passos altivos rumo ao salão pedante, como se a vida fosse movida a esturjão e champanhe francês.
Os espelhos refletem a modesta jocosidade dos engraxadores de crinas escovadas e gravatas espampanantes, que bajulam girafas anoréticas, e outras aves-raras, de pescoços nus e manchas retocadas a botox.
Até os lustres e candelabros receberam suas doses de unguentos de brilho cristalino para irradiarem pompa e circunstância sob as ocas cabeças de gel, laca e outros gases aspergidos.
E este cenário de saltos-altos e narizes polvilhados só fica completo havendo trovoadas de flashes e adulações vocais porque, quando o sol retornar aos céus, o mundo plebeu vai querer vibrar com a ostentação dos bonecos movidos a exuberância fútil, lisonjas supérfluas e capas maquilhadas.
EMANUEL LOMELINO
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