Diário do absurdo e aleatório
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Já fui crédulo nas marés lunares, mas o voo dos pelicanos, em contraluz, revelou-se tão frouxo quanto as ondas que desmaiam nas areias costeiras.
Já acreditei na frescura primaveril, mas todas as migrações deixam um rastro de negritude e as savanas escondem melodias necrófagas.
Já confiei nas brisas refrescantes de verão, mas de todas as luzes nascem sombras que ocultam a natureza dos horizontes mais ambicionados.
Algures, nas inúmeras encruzilhadas percorridas, perdi a chave da candura e, pela primeira vez, enxerguei as verdadeiras cores da cobiça e do embuste.
Por mais que os abutres de ocasião abram as asas com sorrisos luminosos, há sempre notas de rodapé no final de cada página de gentileza.
EMANUEL LOMELINO
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