quinta-feira, 2 de maio de 2024

Diário do absurdo e aleatório 296 - Emanuel Lomelino

                                        

Imagem istockphoto

Diário do absurdo e aleatório 

296

Quando a Tília oferece os seus botões ao mundo, o ar fica impregnado pelo cheiro de renovação, que nem as águas choradas tardiamente conseguem disfarçar.

O vento assobia uma valsa, apenas bailada pelas alvas gaivotas desnorteadas e alguns pardais zombeteiros, que ainda não esqueceram a fábula de João Capelo e insuflam as plumas negras.

Há um grilo cantor a imitar cigarras roucas enquanto as formigas regressam, impávidas e indiferentes à cantoria, à sua vidinha de sempre sob o olhar guloso dos piscos e lagartixas que tomam banhos de sol.

O jardim verdejante é patrulhado por dois gatos vadios que desejam encontrar um pombo distraído ou um roedor imprudente, sem deixarem de ter um olho na refeição e outro em alerta canídeo.

Tudo isto acontece, entre calçadas, nas margens do movimentado asfalto, onde a vertigem é prioridade e os insectos atropelam para-brisas e olhos nus.

EMANUEL LOMELINO

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