quinta-feira, 11 de abril de 2024

Diário do absurdo e aleatório 275 - Emanuel Lomelino

Imagem cml

Diário do absurdo e aleatório 

275

A irregularidade das calçadas condiciona as passadas nos labirintos tricotados pelas sebes e árvores das praças e os bancos de madeira, envelhecida pelos dias, esperam com paciência os leitores de jardim e alimentadores de pombos.

Os pintassilgos sobrevoam a azáfama das formigas ao som do violinista que silencia as ociosas cigarras. Num ramo altivo, berço de densa folhagem alaranjada, dois olhos de esquilo perscrutam os canídeos que passeiam, pelas trelas, os donos hipnotizados pelos pixéis dos ecrãs iluminados.

Nas águas barrentas, dois cisnes flutuam a atenção na família de patolas que se refugiou no centro do lago, fora de alcance do atrevimento de um infante trôpego, incentivado pelos risos histéricos e babados dos progenitores.

E tudo isto é embrulhado por ciclistas, trotineteiros e patinadoras, de calções curtos e justos, que não querem destoar do equilíbrio da paisagem nem diferenciar-se dos caminhantes e corredores de circunstância.

EMANUEL LOMELINO

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