domingo, 24 de março de 2024

Diário do absurdo e aleatório 257 - Emanuel Lomelino

Diário do absurdo e aleatório 

257

Há uma heterodoxia evidente no silvo melífluo da brisa que beija as folhas de uma árvore. É um ciciar da natureza; um aviso intimista, mas tão expressivo quanto os brados das ondas que esculpem os maciços rochosos. Contudo, mantemo-nos indiferentes.

Existe um discurso, nas vozes das tempestades, que passa despercebido a olho nu. É um código do ambiente; um sinal de alerta, tão dual como o ressonar de um vulcão adormecido na antecâmara do seu estrondoso despertar. Contudo, mantemo-nos apáticos.

Há uma oscilação atmosférica em todas as épocas como um entrelaçar festivo de quadras temporais. É um sussurro climático; uma advertência tão cadenciada quanto o degelo dos mais primitivos glaciares. Contudo, mantemo-nos passivos.

Existe um tempo que se esgota como uma ampulheta quebrada. É a noção de perenidade a extinguir-se como o Cretáceo. Contudo, mantemo-nos impávidos porque essas coisas só acontecem aos outros. Quais outros?

EMANUEL LOMELINO

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