sábado, 23 de março de 2024

Diário do absurdo e aleatório 256 - Emanuel Lomelino

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Diário do absurdo e aleatório 

256

A turbulência dos dias não quer saber se o arco-íris é filho do sol e da chuva ou reflexo da cúpula que dá razão aos esfomeados terraplanistas.

De leste chegam uivos ogivados rugidos por gargantas mais inocentes do que gárgulas esquimós, enquanto, daquela janela aberta para o Tejo, ecoa uma voz de barítono com hálito de açorda e chamuça.

Nos carris do elétrico, encerados pela morrinha recente, deslizam saltos altos, “raios partam” e outros impropérios indiferentes às moedas, largadas à laia de piedade, no boné do humorado maltrapilho, que tem banca permanente no adro da igreja e um cartaz a informar: multibanco avariado.

Na porta da tasca sorvem-se ginjinhas espirituosas e lançam-se olhares – cada um com o seu significado – para os “camones” na esplanada e aos que passam de mochilas às costas e ansiosos por fotografar os azulejos quebrados das fachadas devolutas.

O céu anuncia o anoitecer precoce de mais um domingo e não há tempo a perder com notícias de Gaza ou Kiev porque é dia de clássico na tv e expulsão num reality show.

EMANUEL LOMELINO

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