quarta-feira, 20 de março de 2024

Diário do absurdo e aleatório 253 - Emanuel Lomelino

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Diário do absurdo e aleatório 

253

A pele manchada, de múltiplas e árduas batalhas, exibe com sofreguidão todas as escaras acumuladas, que se sobrepõem umas às outras, como se a derme fosse um transporte público apinhado de gente em hora de ponta, quase sem espaço para respirar.

O cansaço e as nódoas negras empilham-se no corpo e, por mais forte que seja a nossa resistência, fazem esmorecer todos os ímpetos, todos os desejos, toda a força interior, como se as vontades, quais seres independentes de nós, quisessem tomar as rédeas da vida e levar-nos por caminhos diferentes, diametralmente opostos ao pretendido.

No pensamento aflora a ideia de mandar os planos às malvas, abdicar dos propósitos iniciais e aceitar, com resignação, a tristeza dos fados sem melodia, qual Sísifo conformado com a inevitabilidade da sua sorte.

Nestes dias, de moral fragmentada, encontro a salvação nas palavras dos sábios que habitam a minha cabeceira, ganho mais uns traços na bateria que me energiza e volto a acreditar que todo o esforço, sangue, suor, lágrimas e corpo inchado, levar-me-ão ao porto ambicionado.

EMANUEL LOMELINO

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