Diário do absurdo e aleatório
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Encontrei um companheiro de adolescência, que já não via há anos. Era com ele que eu passava a maior parte do tempo. Éramos uma dupla como Tom Sawyer e Huckleberry Finn, mas a vida separou-nos na idade adulta. Se a memória não me atraiçoa, desde que emigrou para a Noruega, só estive com ele no dia do seu segundo casamento. Entretanto já se divorciou mais duas vezes.
Revê-lo foi um misto de emoções. Por um lado, a satisfação de abraçar o parceiro de mil ocasiões, por outro, a estranheza por não o reconhecer no seu comportamento.
Para evitar ferir suscetibilidades, e porque há sempre quem esteja de prontidão para apontar o dedo, vou saltar a parte que me surpreendeu e dissertar apenas na conclusão que retirei daquilo que ele me disse mais tarde, quando as pessoas que o acompanhavam se ausentaram e ficámos sozinhos.
Infelizmente, estamos a viver um tempo em que os humanos sentem a necessidade de usarem máscaras a toda a hora para se sentirem integrados. As cicatrizes que a vida tatua no âmago e o medo da solidão conseguem desvirtuar a essência e levar as pessoas a terem comportamentos que fogem à sua própria natureza.
No meu íntimo não consigo ser juiz em nenhuma causa, bem pelo contrário, procuro ser o mais tolerante, compreensivo e abrangente possível, em todos os momentos. No entanto, não posso deixar de manifestar a minha preocupação pelo rumo que as sociedades modernas obrigam as pessoas a trilhar para se sentirem, minimamente, aceites. É também por isso que me sinto desenquadrado no tempo.
Quanto a nós S… o lema mantém-se “no metter what, always”.
EMANUEL LOMELINO
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