quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

O escutador da quaresma (excerto 9) - Renata Quiroga

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A nuvem trazia, sempre, uma sensação fresca, infiltrando-se diariamente no mesmo horário para fazer seu show, sua pantomima de trocar partes, pingos e goteiras por salseirada inteira. Ela não faltava ao seu compromisso de condensar a ação em deslocamento de ar, de ar comprimido preso na garganta, guardado nos armários atmosféricos. Ao final de todo esse processo, como precisava cobrir outros ares com a mesma rotina, ia embora deixando todas as cabeças soltas para trás. Começava tudo novamente no rodar da ciranda do ciclo pluvial. Uns achavam que o circuito da chuva, ao invés de ajudar o pessoal a se entender, era um ritual demoníaco que prendia cada um dentro de sua própria rede moinho. Era feito aquela gente que venta sua vida incessantemente igual, pactuada com o retorno, irmanada com a repetição. Outros entendiam como compromisso tratado no leito de sorte, aquele que recebemos no nascimento, no qual ao fado somos lançados. De qualquer forma, o desfecho era sempre o mesmo, era tudo um eterno outra vez. A nuvem que era igual para todos se modifica ao encontrar cada um, cada história.

EM - O ESCUTADOR DA QUARESMA - RENATA QUIROGA - IN-FINITA

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