domingo, 22 de outubro de 2023

soletra um verso, lavra a melodia (excerto) - Monique Lima

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Viver em sociedade é um grande desafio para todas as pessoas. Uma vez, rompeu um cano d’água na rua onde eu morava: os cães faziam festa e as crianças iam junto aos cães na algazarra, os gatos miravam curiosos dos telhados e as pessoas mais velhas reclamavam prevendo o futuro. Elas conseguiam ver que aquele rompimento impediria a água de alcançar as casas, caso o problema não fosse resolvido imediatamente.
Eu era criança, a rua era de barro e eu não gostava de usar uniforme escolar. Com aquela lama toda de três dias de rompimento, não tinha roupa que não ficasse amarelada e avermelhada. Quase quatro dias depois, fecharam o duto, mas a água continuou jorrando e passou a ter um aspecto mais denso. Eu não sabia o que significava a palavra “densa” quando eu era criança – ainda bem que a gente aprende! Quando eu era menor, o meu cabelo era um pompom, eu era rechonchuda e bochechuda, tinha dentes de leite e andava pela casa apoiando nos móveis e pronunciando, sem intervalos, as palavras que eu conhecia, as mais familiares, as que todo mundo sabe e que podem parecer de difícil entendimento para as pessoas que não vivem junto.

EM - ELAS E AS LETRAS: SEMENTE, PRESENTE - UM LIVRO PARA MARIELLE FRANCO - COLETÂNEA - IN-FINITA

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