quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Uma vez um grande amor (excerto 2) - TEREZINHA PEREIRA

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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De cada vez que voltava, noite inteira enchia-me de palavras de amor. Dizia que eu era a paixão de sua vida, o ar que respirava, o vento que ondulava o capim no pasto, o voar leve dos bandos de pássaros, o perfume que exalava das flores, o botão das roseiras do jardim, a chuva que umedecia a terra, a essência do seu próprio ser. Falava bonito. Declamava poesias. Dias depois, partia para negócios. Para onde ia, durante quanto tempo ficaria fora, negava-se a dizer. Aguarde. Ligo para você. Isso repetia após a chegada do celular. Antes, falava que mandaria um recado pelo motorista da linha de leite. Eu sempre esperei um recado que nunca chegou. E dele a voz, vez alguma, ouvi ao soar.
A cada entardecer ficava sentada no degrau da porta da casa. Meus dias seguiam o andar do sol. E, quando ele dourava de modo único toda a relva em volta da casa, a copa das árvores, a água da lagoa e os animais no pasto, sentia que, naquele dia, eu também acabava de cumprir uma missão. Depois dessa mágica, o sol sumia detrás da pequena serra quase de supetão. As cores da paisagem iam ficando escuras, as sombras começavam a tomar conta de tudo e eu entrava em casa. Para não ficar perdida no tempo, marcava então no calendário mais um dia após aquele em que ele mais uma vez partira. Deitava então na cama sem calor e, da janela, ficava a olhar o véu negro estrelado que cobria o céu e recordando de meu amado o toque suave e morno, o cheiro a que nada poderia comparar e as palavras de amor. Deitados juntos naquela mesma cama ouvira eu as mais belas.

EM - CONTOS E CASOS - TEREZINHA PEREIRA - IN-FINITA

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