sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

O livro de Anita (excerto 2) - TEREZINHA PEREIRA

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Quem sabe seria melhor começar a história de outra maneira...
Anita não teve pai nem mãe. Quer dizer, eles nunca se manifestaram. Recém-nascida, ela foi encontrada, enrolada em trapinhos, chorinho manso, perto do altar de Sant’Ana, dentro da igreja. O maior rebuliço na cidade. Quem seria o pai, quem seria a mãe daquela que havia sido colocada perto do altar de Sant’Ana? Por certo não seria filha da santa. Aconteceram muitas buscas, muito sermão, muita falação: um prato cheio para as beatas de igreja como também para todo o povo da cidade. A menina acabou sendo batizada com o nome de Ana e criada pelo vigário estrangeiro. Dona Cecé, empregada da casa paroquial desde quando não se lembrava mais, e o vigário estrangeiro afeiçoaram-se tanto à menina que acabaram ficando com ela. Não faltou gente para dizer que a garota era filha da dona Cecé com o... Deixa pra lá.
O padre estrangeiro que batizou a menina encontrada perto do altar de Sant’Ana era um holandês gordo, rosto vermelho, olhos azuis. Havia chegado na cidade cerca de um ano antes de a menina ser encontrada perto do altar da santa. Falava um português todo enrolado. Quando fazia o sermão da missa, deixava os fiéis com ar de quem não havia entendido nada, mas pensando que o padre havia falado muitas palavras difíceis e bonitas o suficiente para deixá-los livres das tentações do – como ele dizia – sa-ta-a-nás. O padre holandês cuidou da menina Ana com carinho e quase devoção. Quando ela completou oito anos de idade, um ataque fulminante do coração o levou, deixando-a como que órfã pela segunda vez. Dona Cecé, um tanto envelhecida e tristonha com a morte do padre, desdobrou-se em cuidados com a menina.

EM - CONTOS E CASOS - TEREZINHA PEREIRA - IN-FINITA

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