terça-feira, 24 de maio de 2022

Os mil reflexos de uma solidão (excerto) - VÍTOR COSTEIRA

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Foi, perante este rápido pensamento, então, que ela retomou a postura inicial, ligeiramente altiva, e ergueu os olhos para a mulher que a fixava de frente, lhe estudava os gestos e apreendia os sinais. Tentava, por seu lado, descodificar os traços físicos e psicológicos daquela figura que a enfrentava tão minuciosa quanto curiosamente. Podia dizer-se, até, que se estudavam mutuamente.

Aquela não era uma mulher de quem se pudesse dizer que era velha, ainda muito longe disso, mas dava a sensação de que se queria mostrar como tal ou, pior, não se importava nada em parecê-lo e havia gritos de tristeza e amargura riscados fundo na sua pele ligeiramente flácida. No geral, tinha traços firmes que eram de uma beleza comum, avessa a grandes alardes ou demonstrações públicas daquilo que sabia serem as suas melhores características.

Olhava-a de frente e, sem ponta de desdém ou inveja, achava que aquele cabelo já passara por melhores dias. Estava desalinhado, sem gosto e com as pontas quebradas. Vários trilhos em contraste indicavam a presença alarmante de precoces cabelos brancos e, talvez, precisasse mesmo de algum cuidado diário.

A esta observação, respondeu-lhe um olhar triste magoado… aqueles olhos tinham ausência de brilho, de mensagem. Já tinham tido, muito provavelmente, uma existência diferente mas, por ora, apenas transmitiam a imagem de um deserto noturno, vazio e distante.

EM - CONTOS E CRÓNICAS (IN)TEMPORAIS - VÍTOR COSTEIRA - IN-FINITA

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