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Lourenço não consegue esconder o que lhe vai no pensamento, nem o pretende, As lágrimas que lhe escorrem pelo rosto e fazem com que os pelos do peito brilhem ainda mais sob os raios solares de tão acalorada tarde de Setembro, são a prova real de como sofre ao ouvir a narrativa de tão dolorosos momentos.
Mel, mantendo-se de cabeça apoiada no ombro dele, olha-o comovida. Se há pouco tempo, lhe dissessem que ela voltaria a confiar em alguém, principalmente um homem, ao ponto de ali estarem, os dois completamente nus, pele com pele, ela teria achado que o autor de tal afirmação só poderia estar completamente louco. Afinal, agora vê-se a pensar que a única louca no meio de tudo, é ela. Não uma louca qualquer, mas sim uma louca pelo prazer e felicidade que sempre lhe foram negados e que agora ali estão à espera de serem colhidos e saboreados.
Lourenço, após se conseguir refazer do impacto provocado pela leitura daquele pequeno pedaço do passado de Mel, e como que adivinhando o que lhe vai no pensamento, roda um pouco o tronco, de modo a ficar olhos nos olhos com ela, agarra-lhe nas mãos e diz-lhe, novamente de lágrimas nos olhos, que muito do que ali se encontra escrito, se poderia aplicar a ele mesmo, na total perfeição das palavras.
Mel, dando asas ao que lhe vai no coração, chega-se a ele, empurrando-o até que fique deitado com a cabeça apoiada no braço do sofá, então deita a sua própria cabeça no suave peito masculino, ao mesmo tempo que coloca a perna direita sobre as deles e se vai chegando até que os dois corpos fiquem como que colados um ao outro:
– Explica-me uma coisa, se o conseguires, e quiseres. Como é que alguém que sofreu o que tu sofreste nas mãos do teu marido, e parece-me que ainda nem sequer sei nem uma milésima do teu verdadeiro calvário, consegue superar todos os traumas, vencer todos os medos, derrubar todos os fantasmas e em tão pouco tempo, volta a acreditar num homem, ainda para mais, tratando-se de um desconhecido como eu?
EM - DIÁRIO DE MEL - FRANCIS RAPOSO FERREIRA - IN-FINITA
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