quinta-feira, 3 de março de 2022

Dia cinzento (excerto 1) - LUÍS VASCONCELOS

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Entretanto em sua casa. Alguém bateu persistentemente à porta. Preocupada a minha mãe (Sim, porque o homem de quem vos tenho estado a falar era o meu pai!) dirigiu-se para a porta. Entrou alguém, não me lembro quem, que o mais calmamente que podia disse alguma coisa à minha mãe que visivelmente a perturbou. Primeiro ficou pálida, estática, incrédula perante o que lhe tinha sido dito. Depois começou a andar de um lado para o outro, não conseguindo conter as lágrimas que se soltaram profundamente dos seus olhos. Entretanto as pessoas iam entrando, e eu deixei de ver a minha mãe, porque a sala estava cheia de gente que a tentava consolar e tranquilizar. Eu tinha 6 anos, o meu irmão tinha apenas 2. Nenhum de nós percebia nada do que se estava a passar, mas ao ver a nossa mãe chorar, tínhamos a perceção de que era alguma coisa grave. Queríamos chegar perto dela, estar com ela. Mas não nos deixavam. Nós próprios começámos também a chorar. Apercebendo-se disso, ouvi-a dizer: “Eu quero ir vê-lo, mas primeiro quero falar com os meus filhos!”. Aproximou-se de nós, aparentemente serena: “A mãe vai ter que sair. O vosso pai magoou-se e a mãe vai vê-lo ao hospital. Não se preocupem, está tudo bem, foi só uma queda. Até eu voltar, meus queridos vocês vão ficar com a Dona Clara e com o Sr. Fernando (eram os vizinhos de quem ela mais gostava. Além disso os filhos deles eram meus amigos e também do meu irmão) até eu voltar, está bem?”.

EM - NINHO DE CUCOS - LUÍS VASCONCELOS - IN-FINITA

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