sexta-feira, 4 de março de 2022

A ousadia de sonhar (excerto) - VÍTOR COSTEIRA

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Nasceu!

Nasceu no meio de tantos outros já chegados anteriormente… pele jovem e frágil, novos demais, como ele, para se queixarem do que quer que fosse, ao lado de muitos outros meio amarelados, todos ligados à árvore da vida por um caule a que se poderia chamar sonho, esperança, cordão umbilical ou pedúnculo, e que iam crescendo enquanto festejavam a chegada de uns, se resignavam à queda de tantos outros e raramente tendo a atenção devida à partida de todos.

Quase todos eles iam amanhecendo pela primeira vez na mesma época do ano e assim se tornavam tão indistintos, tão semelhantes e com características tão uníssonas que, deste modo, pouco se diferenciavam uns dos outros, quer fosse pela pele rugosa, ou pelo seu aroma fresco e campestre, pelo suave formato das linhas curvas dos corpos tendenciosamente ovalizados ou, ainda que fosse, pela cor dos corpúsculos da sua epiderme.

Também deles se poderia falar algo sobre a sua territorialidade. Não andavam a saltar de galho em galho, como os pássaros tontos que pareciam não saber o que queriam, sempre a palrar e a depenicar, sempre aqui, sempre ali, esvoaçando por entre eles, como que querendo ostentar a sua capacidade única de estar e logo não estar ou, talvez, fosse somente esta a sua forma de gritar a liberdade das suas asas! Mas, não… eles, não. Eles nasciam vistosos e cheirosos e jamais abandonavam o lar onde tinham nascido. Eram conservadores, senhores de ideias e gestos austeros e seguros da sua missão, enquanto não houvesse mão que os levasse.

EM - CONTOS E CRÓNICAS (IN)TEMPORAIS - VÍTOR COSTEIRA - IN-FINITA

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