segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Memória de um objeto – INÁCIA GIRÃO

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Eu me chamo Elgin. Uma máquina de costura inventada há mais de 150 anos para transformar o modo das pessoas se vestirem, melhorar o tempo e a qualidade na confecção das roupas.

Nos anos de 1940, vivia na casa da Vó Neá. Depois fui ofertada de presente para a Dona Neíse. Uma jovem senhora que começava a aprender a costurar. Eu era formada de madeira e ferro. Pesada e resistente ao tempo. Na minha vestimenta havia dois bolsos em cada lado do corpo, onde guardava linhas, botões, agulhas, colchetes, zíper e tesoura.

Dona Neíse tinha muito zelo por mim. Costumava me limpar da cabeça aos pés, antes e depois de me utilizar. E ainda colocava óleo lubrificante nas minhas articulações, para facilitar meu bom funcionamento. Se eu não recebesse a devida manutenção poderia travar, quebrar linhas e agulhas durante as minhas horas de trabalho. Jamais queria me tornar um ser desagradável a ela. Por muitos anos fui de grande utilidade para ela e sua família.

Anos se passaram e fui me tornando fraca. Minhas pernas criaram crostas e as minhas roupas se desgastaram, ao ponto de não mais ter como consertar. Então fiquei despida, mas não me intimidei. Os membros superiores do meu corpo ficaram separados das minhas pernas. Foram colocados em cima de uma bancada de madeira com um motor acoplado, para que eu pudesse voltar a funcionar normalmente e em qualquer lugar. Passei a ser um objeto portátil. Minhas pernas receberam um tratamento anticorrosivo e uma leve pintura. Foram cobiçadas por Anastácia, a filha de Dona Neíse.

Anastácia tornou minhas pernas mais atraentes. Foram pintadas na cor de ouro envelhecido. Em cima delas pôs uma base de vidro com bordas lapidadas, onde eram colocados enfeites e plantas naturais. Há mais 20 anos estou em sua companhia e faço parte da sua decoração. É lá onde me sinto feliz.

EM - VERSO & PROSA - COLECTÃNEA - IN-FINITA

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